Este blogue é um ponto de encontro com amigos desconhecidos que se reconhecem nas palavras e nos gestos, aqueles por vezes tão comuns que deixamos de reparar, até alguém nos voltar a falar deles, como se fosse a primeira vez.

Música

12 de setembro de 2018

#2 Marialva





Marialva, um dos sítios mais intensos onde já estive. É uma aldeia medieval dentro das muralhas de um castelo. Desde o primeiro dia em que a vi há muitos anos atrás, que me ficou no coração.

É um sítio encantador, mal se entra, inspiramos toda a história, há qualquer coisa que nos liga de forma intensa. Em Portugal, de todos os sítios que já conheci e adoro, este é o mais especial. É como fazer numa só, várias viagens no tempo, é como estar dentro de um livro cheio de histórias ansiosas por serem ouvidas.

«o castelo (...) mais habitado de invisíveis presenças»
(Saramago) 

Quando escolhi este destino, sabia que ia ver algo que nunca tinha visto, talvez bonito ou triste até, pelo facto da povoação ter tido que abandonar as suas casas e toda a sua vida há poucas décadas atrás, um tempo tão perto do nosso, mas quando lá cheguei percebi que era muito mais que isso.

Ao entrar no Castelo, assim que a visão alcançou toda a aldeia dentro da muralha, tive a sensação de pertencer-lhe e de ela fazer parte de mim, como se naquele instante o vento quente me transportasse como sementes de flores, senti-me a entrar num tempo que não era o meu, e a encher-me com saudades que não me pertenciam.

Em todas as janelas vi histórias deixadas para trás, arrancadas a quem lhes pertencia. Por algum motivo a vontade era ficar lá, até o tempo não ser tempo. Conforme caminhava, espreitando cada uma daquelas casinhas, percebia que cada pedra, cada fenda, cada pequeno pedaço de pó, tinha uma lágrima, um sorriso, uma história, de tantos povos e vidas por entre séculos, muitos deles completamente esquecidos e que jamais iria conhecer.

Não sei o que nos faz sentir assim, mas estar naquele sítio tão aconchegado, tão ancestral, tão poderoso, faz-nos sentir a sua grandiosidade, no espaço, no tempo, na cultura, na vida, deixa-nos sem vocabulário suficiente para nos exprimirmos e ultrapassa toda e qualquer capacidade de imaginação.

"O viajante sente o Castelo de Marialva uma grande responsabilidade.
Por um minuto, e tão intensamente que chegou a tornar-se insuportável,
viu-se como ponto mediano entre o que passou e o que virá."
 (Saramago)












Um pouco de História:
 

De facto, as origens longínquas de Marialva parecem remontar ao tempo da antiga Cidade de Aravor, fundada pelos Túrdulos no séc. VI a.C. Este castro, situado numa eminência rochosa sobranceira aos campos da Devesa, foi o principal núcleo da comunidade dos Aravos, sendo conhecido por Castro dos Aravos.
 
Devido aos inúmeros achados romanos e à descoberta de duas importantes inscrições latinas, uma delas ao Imperador romano Adriano no ano 179 d.C. e a outra ao deus Jupiter, pode-se traçar mais uma parte da história, sabendo que com a chegada dos Romanos o nome alterou-se para Civitas Aravorum, tendo sido reconstruída no tempo de Adriano e Trajano, foi um importante ponto de confluência e cruzamento de vias, entre as quais a Via Imperial da Guarda a Numão. Os Godos instalaram-se também no monte, primeira ocupação cristã, mudando-lhe o nome para S. Justo. A esta ocupação seguiram-se os Árabes que terão dado à cidadela o nome de Malva, que reconquistada por D. Fernando Magno de Leão em 1063, lhe chamou Marialva.

Despovoada pelas lutas da Reconquista, D. Afonso Henriques mandou-a repovoar e concedeu-lhe o primeiro foral (1179). D. Sancho I reconquistou-a em 1200, altura em que o povoado extravasou a cerca amuralhada, formando-se assim o Arrabalde que apresenta uma malha urbana de traçado predominantemente medieval, onde proliferam igrejas, capelas, casas quinhentistas e senhoriais, a par de um conjunto de habitações rurais com características típicas da casa beirã. D. Dinis, que criou a Feira em 1286, e D. Manuel, que lhe concedeu Foral Novo (1512), procederam a obras no castelo, transformando Marialva numa das mais imponentes e fortes praças de guerra do reino.

Dada a localização fronteiriça de Marialva - e estimulada pela Feira (dia 15 de cada mês) que concedia diversos privilégios aos moradores e feirantes - iniciou-se no séc. XIII a fixação de judeus, cujo número aumentou durante o reinado de D. Manuel formando mesmo uma judiaria.

D. Afonso V deu o título de Conde de Marialva a D. Vasco Coutinho (1440), que se destacara nas campanhas militares do Norte de África; mais tarde passou a marquesado por mercê de D. Afonso VI (1675), tendo sido primeiro Marquês de Marialva D. António Luís de Menezes, terceiro Conde de Cantanhede, pelo seu papel decisivo na Revolução de 1640.

Em 1855 foi suprimido o concelho de Marialva, que passou a englobar o de Vila Nova de Foz Côa. Em 1872, Marialva foi incorporada no concelho de Mêda.


 

13 comentários:

  1. Obrigado pelas fotos e pelos apontamentos históricos. Uma vez que a cultura medieval me fascina, vou tirar um dia para ir visitar essas muralhas. Obrigado pela partilha.

    BeinjBeij

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  2. Realmente um local mágico.
    Hei de visitar.
    Beijo

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  3. Oi Sandra
    Pelas magníficas imagens percebe-se a magia que circunda o local
    E amei conhecer essa vila dentro das muralhas de um castelo
    E numa feliz coincidência Marialva é o nome de minha sobrinha
    Beijinhos

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  4. Que me recorde, nunca visitei, mas já percebi que seria muito feliz a passear por lá. Adoro lugares assim, recheados de história e com todo este ambiente. Já acrescentei à minha lista de sítios a ver

    r: Quase que nos cruzávamos, então, porque também estive lá no domingo :)
    Também quero voltar lá, porque é sempre prazeroso passear pelos Jardins e estar rodeada de livros
    Vou aguardar para ver *-*

    Tão querida. Muito, muito obrigada!

    Beijinhos

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  5. Oi querida
    Agora, doente, eu só viajo poucas distâncias e muito nos livros.
    Continue lendo muito, qualquer tipo de leitura para que possa debater com qualquer pessoa.
    Adorei as imagens e sua busca.
    Beijos no coração
    Lua Singular

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  6. Adorei as fotos, parece, de facto, um lugar encantador e cheio de história. Acho que ia adorar conhecer :)

    R: Dark é mesmo incrível. Se vires, diz-me. Vai ser ótimo ter alguém com quem partilhar alguns pontinhos da história :p

    Beijinhos

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  7. Juro que não conheci, mas já apontei o nome para um dia ir ver. As fotos estão maravilhosas *-*

    Beijinhos,
    DEZASSETE

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  8. Fica numa aldeia medieval???
    Caramba que incríveeeeeeeeel.
    Sempre quis conhecer um lugar assim ♥

    https://heyimwiththeband.blogspot.com/

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  9. Não conhecia e é um sitio de grande beleza é uma pena aquelas casas não estarem recuperadas.
    Um abraço e continuação de uma boa semana.

    Andarilhar
    Dedais de Francisco e Idalisa
    O prazer dos livros

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  10. Wowow, que lindo! A primeira foto deixou-me logo com muita vontade de visitar!


    Estou a seguir-te! :) Beijinho

    A Maria Rita blog

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  11. uau, muito obrigada pelas tuas dicas! Realmente não podemos nem piscar os olhos e é difícil pensar em tudo...

    Beijinhos,
    O meu reino da noite
    facebook | instagram | bloglovin

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  12. Essas fotos são lindas!
    Já fui uma vez a Foz Côa pela escola e é lindo!

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Obrigada pela visita