Todas
as noites, ela levantava-se da cama sem sono, soltava os longos cabelos
castanhos ondulados e abria a cortina da janela, contando, todas as janelas com
as luzes acesas, do edifício em frente, do outro lado do acanhado jardim. Imaginando
o que aconteceria em cada uma delas, não se sentia tão sozinha.
Ao lado duma dessas janelas com luz, numa janela, quase sem luz, um rapaz, sentado ao computador, desligava o monitor todas as noites, assim que a via aparecer, e observava-a na escuridão, com o desejo intenso de atear o coração daquela linda rapariga.
Numa noite quente de verão, ela estava de camisola justa sem mangas, expondo os ombros perfeitos, que ele desejava poder agarrar enquanto a beijava. Nessa noite, ele decidiu parar de ser espectador. Nervoso, levantou-se da escrivaninha, acendeu a luz do quarto e encostou a palma da mão no vidro da sua janela.
Da sua janela, do outro lado do jardim, a rapariga morena, viu uma luz acender e um rapaz alto e forte, de cabelo ondulado pelos ombros, com um olhar cativante, levantou uma das mãos e encostou-a à janela, na mão estava escrito “Olá”.
Primeiro,
ela ficou sem saber o que fazer, mas porque haveria de ter medo de um olá, gostou do gesto e do olhar genuíno dele. Fez-lhe um gesto de olá com a mão e sorriu-lhe.
Ele sorriu de volta e ela desapareceu novamente entre a escuridão.
No dia seguinte, ela voltou à janela e levou consigo um marcador preto para se visse o rapaz. Quando ele apareceu segundos depois, ela desenhou na sua mão, esperou que secasse e fez o mesmo.
Do outro lado o rapaz, sentado ao computador, esperava ansiosamente que ela aparecesse como nas noites anteriores. A luz do quarto dela estava acesa mas desta vez tinha as cortinas corridas. Quando uma das cortinas se moveu e ele a viu, sentiu picadas pelo corpo todo até ao coração. Ela levantou a mão e encostou-a ao vidro, ao ver a mão dela, ele sentiu-se subitamente repleto de um ar doce que lhe fez o coração cavalgar como um cavalo selvagem.
Ela tinha desenhado um sorriso na mão dela, para ele. Ele sorriu-lhe com um olhar feliz, e desenhou um sorriso de volta para ela. Depois virou-se para trás à procura de qualquer coisa e voltou. Colocou um enorme papel na janela com um nome, era o nome dele, Marco, ela sorriu-lhe e foi procurar qualquer coisa. Voltou com um caderno, onde escreveu o nome dela, Mia.
Ele não sabia o que fazer para estar com ela, tinha medo de a assustar. Ela estava a gostar de o conhecer. Naquele instante, ela, que ainda sorria para ele, virou-se para trás, fechou a cortina a correr e apagou a luz do quarto.
Ele não entendeu, será que a tinha assustado? Ou ela estaria em problemas? Durante uma hora manteve-se ali à espera que ela voltasse, mas ela não voltou e ele foi dormir.
A meio da noite ela foi à janela e olhou para a janela dele, estava a luz apagada, mas ele tinha deixado um papel na janela, dizia “PARA TI” e desenhara uma rosa vermelha. Ela sorriu e olhou para as estrelas, que eram as únicas acordadas para além dela. Pegou num marcador e fez um desenho, deixou na janela dela e foi-se deitar.
Na manhã seguinte mal ele acordou foi à janela e viu o desenho dela, uma rapariga à janela com um grande sorriso, por baixo lia-se “Deixas-me Feliz”. Ele ficou ainda mais feliz, e desenhou um rapaz à janela, de mãos no queixo, e a lua. Quando viu, ela entendeu, e à noite estavam de novo juntos, separados apenas por um simples jardim.
Durante duas semanas, olharam-se e corresponderam-se através de papéis, com desenhos e mensagens codificadas. Usavam um código secreto só deles que o Marco inventara, assim mais ninguém os podia entender. Numa cartolina escreveu:
F o r m i d á v e l
0
1 2 3
4 5 6
7 8 9
Colocou o código na janela, quando mais ninguém os via, ela entendeu que cada algarismo corresponderia a uma letra e passaram a comunicar com códigos alfanuméricos. A partir desse momento puderam fazer perguntas e dar respostas. Não tinham namorados, moravam com os pais, ele tinha 17 anos e ela tinha quase 16 anos. Ele tinha um cão, ela tinha dois gatos. Não tinham irmãos. O Marco estudava informática e a Mia estudava artes. Mas nunca tiveram coragem de perguntar os emails ou os números de telemóvel, estavam felizes assim e tinham medo que o outro se assustasse e fugisse por entra a névoa daquele sonho encantado. Gastaram cadernos e marcadores, e saborearam muitas noites cheias de sonhos e sorrisos.
Mas esta noite era diferente, esta noite enchia o peito da Mia de ar quente e vontade de ser aconchegada no peito dele, era uma noite de lua cheia. A Mia, sentia-se apaixonada pela primeira vez, pela noite, pela lua, pelas estrelas e, principalmente, por ele. Ganhou coragem e, em vez de escrever uma palavra, fez-lhe sinal que esperasse uns minutos por ela e foi fazer um desenho. Assim que o terminou colocou-o na janela.
O Marco ficou uns segundos imóvel a contemplar o desenho. Para ele estas semanas tinham sido como um sonho, mas agora que chamaria àquilo? Para ele era a perfeição. Um rapaz, de cabelo pelos ombros, sentado ao computador e, do lado direito, uma rapariga de cabelos compridos com um pincel no ar, que em vez de estar a pintar um quadro, pintava setas na direcção do rapaz, setas que moviam um coração, o coração dela para ele. Tão simples e tão profundo.
Mia, conseguiu ver-lhe o brilho do luar nos olhos húmidos e ele levantou um papel com um enorme coração desenhado, abrindo a mão na direcção dela para ela entender que o coração dele, agora era dela. Dentro havia escrito, 65121-T8. Mia, sorriu de felicidade.
Ambos perceberam naquele momento que não podiam abraçar-se, desejavam com toda a força tocarem-se, ambos colocaram a mão no vidro e olharam-se. Os pensamentos voaram de um para o outro. Sorriram. Mia, desenhou uma seta para baixo, um relógio e um ponto de interrogação. Ele mostrou as mãos levantando seis dedos. Sorriram e sopraram um beijo. Deitaram-se de imediato à espera de adormecer para que as horas passassem mais depressa, mas tudo o que ouviam era o tic tac do próprio coração. Cabiam horas nos minutos daquela noite e o sono nunca chegou.
Ansiosos, minutos antes das 6h saíram de casa, a cada degrau que desciam os corações batiam com mais força. De lados opostos do jardim, eles chegaram, sentiam medo, estavam assustados. Era a primeira vez, era o primeiro amor da vida deles e só desejavam que ficasse para sempre.
Ela espreitava do tronco de uma árvore, ele viu-a e ela sorriu-lhe timidamente. Ele caminhou para ela calmamente, olhos nos olhos. Marco podia sentir o cheiro doce dela, podia ver o castanho avelã dos olhos dela. Segurou-lhe as faces suavemente.
Mia, perdida nos olhos verdes dele, abotoou as suas mãos às dele e encostou as faces ao peito dele. Podia ouvir o coração dele acelerado. Marco agarrou nas mãos dela e beijou-lhe cada dedo, ia beijar-lhe as palmas das mãos quando viu o que nelas havia escrito: “Beija-me”, “Ama-me”. Ele olhou-a nos olhos, sorriu, e mostrou-lhe as palmas das mãos dele, onde escrevera: “Quero beijar-te”.
Pela primeira vez ele ouviu o som da voz dela, “Beija-me”, disse Mia. Ele não respondeu. Beijou-a com todo o amor que sentia no seu peito arrebatado e ela beijou-o de volta. Sentiram que o mundo parara à volta deles, um novo universo irrompia nas suas vidas.
Naquele momento, tinham a plena certeza, acontecesse o que acontecesse, aquele sentimento jamais se apagaria. Pois aquele seria, para sempre, o seu primeiro amor.
Se todas as histórias de amor dos dias de hoje fossem iguais ou parecidas com esta, o mundo seria tranquilo e harmonioso. Obrigada por essa história.
ResponderEliminarBeijinhos
Ora bem, aqui está um bonito começo!
ResponderEliminarBjxxx
Ontem é só Memória | Facebook | Instagram
Estou sem palavras. Que história fantástica, tão cheia de amor *-*
ResponderEliminarOs detalhes, a entrega de ambos, o respeito são fascinantes. E, depois, está escrita de uma forma tão bonita, que é impossível não nos rendermos.
Adorei!
r: Muito obrigada :)
Concordo, é sempre uma excelente forma de conhecermos um pouco melhor quem está do outro lado
Adorei aquelas fotografias mal as encontrei!
Também adoro, são das minhas flores favoritas *-* salvo erro, nunca mais voltei a ver amores-perfeitos com aquela cor, só mesmo em Barcelos (onde tirei a foto).
Verdade, tem logo outro encanto
Beijinhos
Nossa!
ResponderEliminarUm conto de amor lindo! Amor assim já não mais existe
Escreve muito bem, também escrevo contos, mas pequenos.
Adorei seu blog
Beijos
Lua Singular
Obrigado :D
ResponderEliminarNossa, que lindo!!!! Gostei imenso, de verdade!
NEW REVIEW POST | MAKEUP REVOLUTION: FAST BASE STICK FOUNDATION :o
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Que história fantástica, escreves tão bem :o
ResponderEliminarSeguindo o blog <3
Beijinhos,
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r: Enche-me o coração ler isso *-*
ResponderEliminarPorto sempre <3
Oh que bonito, adoro histórias de amor e esta é das lindas! :) Beijinhos
ResponderEliminar--
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Bonito bonito!
ResponderEliminarhttps://heyimwiththeband.blogspot.com/
Uau a história está simplesmente fantástica. Gostei dos pormenores, dos detalhes *-*
ResponderEliminarBeijinhos,
DEZASSETE
Que história bonita! Um amor delicado e encantador. <3
ResponderEliminarE o primeiro amor é uma doce recordação!
ResponderEliminarObrigada pela visita!!!