Este blogue é um ponto de encontro com amigos desconhecidos que se reconhecem nas palavras e nos gestos, aqueles por vezes tão comuns que deixamos de reparar, até alguém nos voltar a falar deles, como se fosse a primeira vez.

Música

8 de setembro de 2018

Um Amor ao Luar




Todas as noites, ela levantava-se da cama sem sono, soltava os longos cabelos castanhos ondulados e abria a cortina da janela, contando, todas as janelas com as luzes acesas, do edifício em frente, do outro lado do acanhado jardim. Imaginando o que aconteceria em cada uma delas, não se sentia tão sozinha.

Ao lado duma dessas janelas com luz, numa janela, quase sem luz, um rapaz, sentado ao computador, desligava o monitor todas as noites, assim que a via aparecer, e observava-a na escuridão, com o desejo intenso de atear o coração daquela linda rapariga.

Numa noite quente de verão, ela estava de camisola justa sem mangas, expondo os ombros perfeitos, que ele desejava poder agarrar enquanto a beijava. Nessa noite, ele decidiu parar de ser espectador. Nervoso, levantou-se da escrivaninha, acendeu a luz do quarto e encostou a palma da mão no vidro da sua janela.

Da sua janela, do outro lado do jardim, a rapariga morena, viu uma luz acender e um rapaz alto e forte, de cabelo ondulado pelos ombros, com um olhar cativante, levantou uma das mãos e encostou-a à janela, na mão estava escrito “Olá”.

Primeiro, ela ficou sem saber o que fazer, mas porque haveria de ter medo de um olá, gostou do gesto e do olhar genuíno dele. Fez-lhe um gesto de olá com a mão e sorriu-lhe. Ele sorriu de volta e ela desapareceu novamente entre a escuridão.

No dia seguinte, ela voltou à janela e levou consigo um marcador preto para se visse o rapaz. Quando ele apareceu segundos depois, ela desenhou na sua mão, esperou que secasse e fez o mesmo.

Do outro lado o rapaz, sentado ao computador, esperava ansiosamente que ela aparecesse como nas noites anteriores. A luz do quarto dela estava acesa mas desta vez tinha as cortinas corridas. Quando uma das cortinas se moveu e ele a viu, sentiu picadas pelo corpo todo até ao coração. Ela levantou a mão e encostou-a ao vidro, ao ver a mão dela, ele sentiu-se subitamente repleto de um ar doce que lhe fez o coração cavalgar como um cavalo selvagem.

Ela tinha desenhado um sorriso na mão dela, para ele. Ele sorriu-lhe com um olhar feliz, e desenhou um sorriso de volta para ela. Depois virou-se para trás à procura de qualquer coisa e voltou. Colocou um enorme papel na janela com um nome, era o nome dele, Marco, ela sorriu-lhe e foi procurar qualquer coisa. Voltou com um caderno, onde escreveu o nome dela, Mia.

Ele não sabia o que fazer para estar com ela, tinha medo de a assustar. Ela estava a gostar de o conhecer. Naquele instante, ela, que ainda sorria para ele, virou-se para trás, fechou a cortina a correr e apagou a luz do quarto.

Ele não entendeu, será que a tinha assustado? Ou ela estaria em problemas? Durante uma hora manteve-se ali à espera que ela voltasse, mas ela não voltou e ele foi dormir.

A meio da noite ela foi à janela e olhou para a janela dele, estava a luz apagada, mas ele tinha deixado um papel na janela, dizia “PARA TI” e desenhara uma rosa vermelha. Ela sorriu e olhou para as estrelas, que eram as únicas acordadas para além dela. Pegou num marcador e fez um desenho, deixou na janela dela e foi-se deitar.

Na manhã seguinte mal ele acordou foi à janela e viu o desenho dela, uma rapariga à janela com um grande sorriso, por baixo lia-se “Deixas-me Feliz”. Ele ficou ainda mais feliz, e desenhou um rapaz à janela, de mãos no queixo, e a lua. Quando viu, ela entendeu, e à noite estavam de novo juntos, separados apenas por um simples jardim.

Durante duas semanas, olharam-se e corresponderam-se através de papéis, com desenhos e mensagens codificadas. Usavam um código secreto só deles que o Marco inventara, assim mais ninguém os podia entender. Numa cartolina escreveu:

F  o  r  m  i  d  á  v  e   l
0  1  2  3  4  5  6  7  8  9

Colocou o código na janela, quando mais ninguém os via, ela entendeu que cada algarismo corresponderia a uma letra e passaram a comunicar com códigos alfanuméricos. A partir desse momento puderam fazer perguntas e dar respostas. Não tinham namorados, moravam com os pais, ele tinha 17 anos e ela tinha quase 16 anos. Ele tinha um cão, ela tinha dois gatos. Não tinham irmãos. O Marco estudava informática e a Mia estudava artes. Mas nunca tiveram coragem de perguntar os emails ou os números de telemóvel, estavam felizes assim e tinham medo que o outro se assustasse e fugisse por entra a névoa daquele sonho encantado. Gastaram cadernos e marcadores, e saborearam muitas noites cheias de sonhos e sorrisos.

Mas esta noite era diferente, esta noite enchia o peito da Mia de ar quente e vontade de ser aconchegada no peito dele, era uma noite de lua cheia. A Mia, sentia-se apaixonada pela primeira vez, pela noite, pela lua, pelas estrelas e, principalmente, por ele. Ganhou coragem e, em vez de escrever uma palavra, fez-lhe sinal que esperasse uns minutos por ela e foi fazer um desenho. Assim que o terminou colocou-o na janela.

O Marco ficou uns segundos imóvel a contemplar o desenho. Para ele estas semanas tinham sido como um sonho, mas agora que chamaria àquilo? Para ele era a perfeição. Um rapaz, de cabelo pelos ombros, sentado ao computador e, do lado direito, uma rapariga de cabelos compridos com um pincel no ar, que em vez de estar a pintar um quadro, pintava setas na direcção do rapaz, setas que moviam um coração, o coração dela para ele. Tão simples e tão profundo.

Mia, conseguiu ver-lhe o brilho do luar nos olhos húmidos e ele levantou um papel com um enorme coração desenhado, abrindo a mão na direcção dela para ela entender que o coração dele, agora era dela. Dentro havia escrito, 65121-T8. Mia, sorriu de felicidade.

Ambos perceberam naquele momento que não podiam abraçar-se, desejavam com toda a força tocarem-se, ambos colocaram a mão no vidro e olharam-se. Os pensamentos voaram de um para o outro. Sorriram. Mia, desenhou uma seta para baixo, um relógio e um ponto de interrogação. Ele mostrou as mãos levantando seis dedos. Sorriram e sopraram um beijo. Deitaram-se de imediato à espera de adormecer para que as horas passassem mais depressa, mas tudo o que ouviam era o tic tac do próprio coração. Cabiam horas nos minutos daquela noite e o sono nunca chegou.

Ansiosos, minutos antes das 6h saíram de casa, a cada degrau que desciam os corações batiam com mais força. De lados opostos do jardim, eles chegaram, sentiam medo, estavam assustados. Era a primeira vez, era o primeiro amor da vida deles e só desejavam que ficasse para sempre.

Ela espreitava do tronco de uma árvore, ele viu-a e ela sorriu-lhe timidamente. Ele caminhou para ela calmamente, olhos nos olhos. Marco podia sentir o cheiro doce dela, podia ver o castanho avelã dos olhos dela. Segurou-lhe as faces suavemente.

Mia, perdida nos olhos verdes dele, abotoou as suas mãos às dele e encostou as faces ao peito dele. Podia ouvir o coração dele acelerado. Marco agarrou nas mãos dela e beijou-lhe cada dedo, ia beijar-lhe as palmas das mãos quando viu o que nelas havia escrito: “Beija-me”, “Ama-me”. Ele olhou-a nos olhos, sorriu, e mostrou-lhe as palmas das mãos dele, onde escrevera: “Quero beijar-te”.

Pela primeira vez ele ouviu o som da voz dela, “Beija-me”, disse Mia. Ele não respondeu. Beijou-a com todo o amor que sentia no seu peito arrebatado e ela beijou-o de volta. Sentiram que o mundo parara à volta deles, um novo universo irrompia nas suas vidas.

Naquele momento, tinham a plena certeza, acontecesse o que acontecesse, aquele sentimento jamais se apagaria. Pois aquele seria, para sempre, o seu primeiro amor.

S.R.

# Um Amor ao Luar
(Versão Vídeo)


12 comentários:

  1. Se todas as histórias de amor dos dias de hoje fossem iguais ou parecidas com esta, o mundo seria tranquilo e harmonioso. Obrigada por essa história.

    Beijinhos

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  2. Estou sem palavras. Que história fantástica, tão cheia de amor *-*
    Os detalhes, a entrega de ambos, o respeito são fascinantes. E, depois, está escrita de uma forma tão bonita, que é impossível não nos rendermos.
    Adorei!

    r: Muito obrigada :)
    Concordo, é sempre uma excelente forma de conhecermos um pouco melhor quem está do outro lado

    Adorei aquelas fotografias mal as encontrei!

    Também adoro, são das minhas flores favoritas *-* salvo erro, nunca mais voltei a ver amores-perfeitos com aquela cor, só mesmo em Barcelos (onde tirei a foto).
    Verdade, tem logo outro encanto

    Beijinhos

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  3. Nossa!
    Um conto de amor lindo! Amor assim já não mais existe
    Escreve muito bem, também escrevo contos, mas pequenos.
    Adorei seu blog
    Beijos
    Lua Singular

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  4. Obrigado :D

    Nossa, que lindo!!!! Gostei imenso, de verdade!

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    InstagramFacebook Official PageMiguel Gouveia / Blog Pieces Of Me :D

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  5. Que história fantástica, escreves tão bem :o
    Seguindo o blog <3
    Beijinhos,
    Blog An Aesthetic Alien | Instagram | Facebook
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  6. r: Enche-me o coração ler isso *-*
    Porto sempre <3

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  7. Oh que bonito, adoro histórias de amor e esta é das lindas! :) Beijinhos
    --
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  8. Bonito bonito!

    https://heyimwiththeband.blogspot.com/

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  9. Uau a história está simplesmente fantástica. Gostei dos pormenores, dos detalhes *-*

    Beijinhos,
    DEZASSETE

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  10. Que história bonita! Um amor delicado e encantador. <3

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  11. E o primeiro amor é uma doce recordação!
    Obrigada pela visita!!!

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Obrigada pela visita