Este blogue é um ponto de encontro com amigos desconhecidos que se reconhecem nas palavras e nos gestos, aqueles por vezes tão comuns que deixamos de reparar, até alguém nos voltar a falar deles, como se fosse a primeira vez.

Música

28 de janeiro de 2021

Volta para Mim - IV - Final

Volta para Mim (I, II, III e IV)

“Se estiveres destinado a voltar para mim, tu voltarás.”

S.R.


Ainda atordoada pelo som do telefone que continuava a tocar, pousou a mão preocupada e levantou o auscultador

- Estou?...

- Desculpa ligar tão tarde. Acabei de receber novidades. – era o militar com quem tinha estado de tarde…

- Aconteceu alguma coisa?... – ela sentia o coração a debater-se contra o peito como um touro bravo.

- Depois de falarmos esta tarde, liguei para o Oficial que está a par das negociações e ele acabou de me ligar de volta... Começaram o resgate dos prisioneiros hoje. Já estão num avião, a voltar para casa. Não sei quantos são, não sei mais nada. Só que está tudo a ser feito agora durante a noite e que demoraram mais porque a maioria não tem documentos nenhuns… Nem me acredito que consegui… – o silêncio do outro lado da linha era longo já – Estás bem?

- Desculpa… não sei o que sentir ou pensar…

- Eu sei… Eu sinto que tudo o que passei nestes dois anos valeu a pena… Eles estão a voltar para casa... Este resgate deixará de ser secreto em poucas horas e eu também vou poder voltar a casa. Abraçar a minha família… - a voz dele começou a soluçar, estava muito emocionado - Desculpa… Tem sido tão difícil… nem a minha família sabe que estou vivo ainda… e finalmente, vou voltar para casa…

- Não sabem?... Mas disseste-me a mim…

- Eu tinha que cumprir a promessa que lhe fiz, tinha que entregar a caixa... A minha família não conseguiria manter segredo e isso podia comprometer a operação de resgate, fui avisado para me manter escondido, que seria por poucos dias. Ele salvou-me a vida, espero ter salvo a dele também… Vamos ter fé.

- Espero que sejas condecorado pela tua coragem. Graças a ti estes homens foram libertados. Mesmo que ele não esteja entre eles... Obrigada

- Não, não tens que agradecer – disse ele emocionado - Vamos esperar, quando eu souber mais alguma coisa ligo-te. Tenta descansar. Boa noite… – disse ele com uma voz mais leve.

- Obrigada. Boa noite… - pousou o auscultador a tremer.

As pernas dela tremiam, sentia-se a perder a força, deixou-se escorregar até ao chão e começou a chorar. Não sabia que ainda tinha lágrimas, chorava de medo, de alegria e de pavor que ele não estivesse naquele avião… O Pipo correu para ela, pousou o focinho no colo, de olhar cheio de empatia posto nela. Ela afagou-o enquanto se acalmava. Ela sabia que era impossível dormir agora. Foi caminhar um pouco na rua com o Pipo, apanhar ar, respirar o cheiro da noite, dos grilos, da terra, das flores que esperam o primeiro raio de sol da manhã para abrirem as pétalas de novo.

Uma hora depois estava de regresso a casa, já passava da 1h da manhã, mas ligou o rádio na esperança de ouvir uma notícia sobre os militares, mas nada… Acabou por adormecer assim no sofá.

Eram 7h da manhã. O Pipo ladrou e ela acordou, estava sentado junto à porta da entrada com o rabo a abanar impaciente, um latido, um ladrar curto, fizeram-na perceber que era alguém conhecido. Àquela hora, talvez fosse a vizinha a passear o cão… Abriu a porta, não havia ninguém, o Pipo saiu para o jardim à frente dela. Do outro lado, alguém atrás da árvore mexia nela, ainda estava um pouco escuro, mas via a uns braços e a casca do esconderijo no chão… Assustada, sentiu-se presa ao chão, o Pipo voltou a latir e a cara atrás do tronco revelou-se, fixando-a sem se mexer também, como se fotografasse com os olhos aquele momento, as lindas feições dela com o amanhecer a encher o céu de tons amarelos e raios de luz. Era ele… Ela tapou a boca com as mãos, incrédula, as lágrimas escorreram-lhe dos olhos sem sequer os pestanejar. O Pipo correu para ele abanando o dorso em vez da cauda, latia num choro comovente, como uma criança a chorar pelo pai… Ele pegou-lhe ao colo e abraçou-o, de lágrimas no rosto também.

Estaria ela a sonhar? Os raios de sol entre os ramos da árvore e ele, ali, à frente dela… Parecia um sonho. Ela continuava petrificada. Ele pousou o Pipo e correu para ela, abraçou-a com tanta força que ela percebeu que estava acordada, era verdade… As lágrimas caíam na cara dos dois, o tempo parou naquele abraço. Ele olhou para ela, agarrou-lhe as faces, limpou-lhe as lágrimas com as mãos e sorriu-lhe. Pousou os lábios devagar na face dela, no queixo, no pescoço, no canto da boca… como se estivessem prestes a dar o primeiro beijo... beijou-a no outro canto da boca e sentiu-a a perder as forças, rosada e de olhos fechados. Como se precisasse de mais coragem, beijou-lhe o lábio de cima, depois o de baixo, até que os lábios se encaixaram, e eles sentiram-se completos, inteiros, novamente, como duas peças dum puzzle perdidas e encontradas, como se fossem uma só alma, um só coração.

Quando os lábios se separaram tinha passado uma espécie de eternidade, sem espaço e sem tempo, onde os ponteiros dos relógios não sabiam para que lado seguir, e ela não sabia se o seu coração batia depressa demais ou se tinha parado….

Como podia um simples beijo completá-los de maneira tão perfeita, intensa, genuína, e ao mesmo tempo deixá-los insatisfeitos e ansiosos por mais? Como podia alguém fazer um beijo durar para sempre?

- Eu disse-te que voltava – disse ele sorrindo.

Agarrou-lhe a mão e deu-lhe algo. Tal como há seis anos atrás….

- Está aqui a minha promessa – disse-lhe ele

Ela olhou para a mão e viu a noz. Sorriu, e desatou o cordel, não imaginava o que seria. Quando a abriu havia papel de seda, ele pegou no papel minúsculo e olhando-a nos olhos, ajoelhou-se.

- Queres ficar ao meu lado para sempre? Casar comigo, ter filhos, netos, envelhecer comigo? Desejei este momento desde o dia que parti… - e abriu o papel de seda, onde estava um anel, que brilhava como a luz do amanhecer.

- Claro que quero… Claro que quero… – disse ela sorrindo e chorando.

Pôs-lhe o anel no dedo, não tinha mudado nem um milímetro nestes anos. Beijou-a. Finalmente, ele cumpria a sua promessa de há seis anos, e selava uma nova promessa, uma promessa de amor completo e dedicado para sempre. Um amor que os magnetizava no corpo, no pensamento, no coração...

E foi assim que ele voltou para ela e ela voltou para ele. Tiveram filhos, netos, muitos cabelos brancos e imensas histórias para contar. Junto à árvore fizeram um canteiro em memória do Pipo, que amaram e cuidaram até ir para o Céu dos cães. No tronco da árvore, no esconderijo, guardam-se agora memórias importantes, para que nunca fiquem esquecidas. E, como todas as famílias, nos momentos bons e menos bons, estiveram sempre ao lado um do outro, e… Foram felizes para sempre.

Há quem procure a vida toda pela oportunidade de voltar a encontrar, abraçar, beijar a primeira pessoa que amou. O amor verdadeiro é eterno, aconteça o que acontecer, e eles seriam para sempre gratos pela oportunidade de se voltarem a encontrar. E, como ele lhe tinha escrito naquele bilhete há muitos, muitos anos atrás, eternizou-o no banco de jardim onde eles se sentaram todos os dias da vida deles, numa placa de metal, onde se pode ler ainda hoje:

 

“Aconteça o que acontecer, o que nos une é eterno.”

 

FIM

1 de janeiro de 2021

Ser Feliz

Queria que me beijasses em cada linha desta carta mas cada vez que me beijas, vais-te embora.

Não sei se andas perdido ou se tens medo de te apaixonar.

Enquanto te sinto, vou apanhando os meus pedaços partidos. Tem sido assim, uma montanha russa. Corro atrás de ti a sorrir, a desejar a subida, para ter um pouco de ti, para logo a seguir cair…

Não posso ir mais atrás de ti.

Tens que descobrir sozinho, o que te falta. E, se um dia descobrires que sou eu, chama-me, eu irei, mas não prometo que ainda haverá lugar para ti.

Agora, vou seguir o vento até onde me levar, mesmo sem ti, eu sei, eu vou voltar a ser feliz.

Sandra Reis

 

Espero que este vídeo leve a todos alguma força, coragem e fé neste novo ano.

Porque às vezes temos que pensar também em nós próprios. Muitas vezes temos que virar a página, até a que menos queremos, para SERMOS FELIZES ❤️

Link: Ser Feliz - Vídeo