Este blogue é um ponto de encontro com amigos desconhecidos que se reconhecem nas palavras e nos gestos, aqueles por vezes tão comuns que deixamos de reparar, até alguém nos voltar a falar deles, como se fosse a primeira vez.

Música

30 de novembro de 2018

Um Oceano entre Nós - IV

* Capítulo I  *  Capítulo II  * Capítulo III * Capítulo IV * Capítulo V *







O tempo não pára, não recua. Às vezes acreditamos que conseguimos fazê-lo voltar atrás,
 mas, rapidamente, percebemos que o ponteiro seguiu em frente, nós é que não.


Finalmente tinham passado os dois dias mais longos do mundo. Eu estava na estação de São Bento à tua espera, já não me lembrava de quando lá tinha entrado a última vez, mas tudo parecia intacto, os sons, os cheiros, as imagens, tudo, os anos não tinham passado ali dentro, era como uma máquina do tempo com comboios a partir e a chegar. Seria tão bom se os comboios nos pudessem levar para momentos em vez de lugares…

Vi o teu comboio a surgir do túnel, quando me viste sorriste e vieste abraçar-me. Olhei para ti à procura dum sinal teu, dum sentimento, era difícil decifrar os teus olhos, não sabia o que sentias, se ainda era possível sentires tudo o que sentiste por mim na adolescência. Mas havia tanto para falar depois da última conversa.

Seguimos até ao átrio da estação, paraste a apreciar os painéis de azulejos nas paredes, nunca os tinhas visto. Estavam ali desde 1905, o mesmo ano em que Einstein publicou a Teoria da Relatividade, e eu que já tinha passado ali tantas vezes, percebi que nunca tinha parado para olhar para eles, vê-los bem, como se fosse a primeira vez. Tantas histórias naquelas paredes...

Puxaste-me o braço a rir. Descemos as escadas da estação de São Bento a correr às gargalhadas, nem sequer percebi porquê, mas tu rias e eu ria. Seguimos pela Rua das Flores, o meu coração estava mais leve, muito mais leve desde aquele Adoro-te. Mostrei-te alguns pormenores das casas mais antigas, falei-te do Porto, do Hard Club ao passar por ele, levei-te ao Palácio da Bolsa, ficaste encantado com os salões, disseste que no teu país não vias coisas assim, belas pelo luxo, encontravas mais beleza na natureza e na paz, contudo percebi no teu olhar mal entrámos no salão árabe, que ficaste encantado. Quando saímos, descemos até à Igreja Monumento de São Francisco, não entrámos, debruçámo-nos apenas nas varandas a apreciarmos a vista delicada e ancestral do rio Douro, era linda, e foi preciso levar-te lá para eu ter uns momentos para a apreciar também. Descemos os degraus até às ruas estreitas da Ribeira e seguimos o traçado ondulado até ao rio. As ruas tinham muita vida, música, sons, mesas, cheiros, gatos e muitas pessoas, algumas apressadas, outras não, turistas na maior parte. Tirámos algumas fotos e atravessámos a Ponte D. Luís I para veres a ribeira duma perspectiva diferente. Na ponte, paraste a ver os rapazes em calções, em pleno Outono, prontos para mergulhar no rio Douro, por apenas algumas moedas.

Desta vez, puxei-te eu, até ao outro lado da ponte, até ao Cais de Gaia. Sentia-me contente, tão contente, mas parecia que estava a sonhar, ainda não parecia verdade, tu estavas ali, ao meu lado, e estávamos sozinhos na rua pela primeira vez. Nunca tínhamos tido esta oportunidade, de passear só os dois, havia sempre alguém conhecido por perto.

Almoçámos ali mesmo e depois do almoço, sentámo-nos à beira-rio, junto dos barcos Rabelos. À nossa frente o Porto, a ribeira, com as cores e a vida, que davam alma àquele cenário que nos aconchegava o coração como um dia de Natal. Ao meu lado, sem olhares para mim, agarraste-me a mão, como fazias há vinte e seis anos e ficaste calado. Desta vez, eu não chorava, estava calma, e consegui sentir a tua mão a agarrar a minha, como se fossem uma só, a mesma sensação, exactamente a mesma, de há quase três décadas atrás. Todos estes anos agarrei a minha própria mão e fingi que eras tu nos momentos mais difíceis, quando tinha medo, quando me sentia sozinha, e agora, finalmente era a tua mão que segurava de novo a minha.

Duas gaivotas pousaram perto de nós e tu riste-te. Olhaste para mim e disseste que não tinha mudado nada nas nossas mãos, que te parecia que o tempo não tinha passado, que não te sentias tão bem em lado nenhum como ao pé de mim. Sentias o mesmo que eu, como se nunca tivéssemos deixado de falar nestes anos todos, nem por um minuto. Eu sorri, afastando um pouco a minha cara da tua, a proximidade física contigo funcionava como um íman para mim. Agarraste-me as duas mãos com as tuas e olhaste-me nos olhos, o meu coração palpitou ao ver a profundidade dos teus olhos nos meus, era como um feitiço, eu estava enfeitiçada. Com as minhas mãos dentro das tuas, disseste-me, duma forma meiga e, sem tirar os olhos dos meus, sem pestanejares, que eu tinha sido o teu primeiro amor, que tinhas sofrido muito quando recebeste aquela carta, mas que não tinhas querido mais ninguém durante muitos, muitos, anos, para eu nunca duvidar que ainda me adoravas, demais, e me querias muito, mesmo muito.

Eu fiquei calada, não conseguia falar, não de sentimentos, sempre fui assim, falava de tudo, mas de sentimentos era tão difícil, mantive os meus olhos nos teus apenas acenando com a cabeça.

Mas, veio um mas, senti-me gelada de repente, eu ainda nem tinha dito nada, e tu já estavas a dizer “Mas”… O meu peito comprimiu-se, o meu ar não saía, e tu começaste a contar as tuas histórias, com vergonha, os teus erros, aqueles que juraste não repetir mais. Contaste-me que traiste a tua primeira mulher com muitas mulheres, que talvez me procurasses inconscientemente nelas, não sabias, mas que me mantiveras sempre na tua vida como uma luz, a minha foto sempre contigo, as nossas músicas, mas, não havia desculpa para isso, e, depois de te teres divorciado fizeste uma promessa, que não podias falhar, não podias trair uma mulher novamente.

Como um calor que vem de trás e me espeta gelado como uma faca, eu percebi o que me querias dizer, eu não era a tua mulher, era ela, aquela com quem tinhas acabado de casar antes de voltar, era a ela que tinhas que ser fiel. Ou querias que eu esperasse por ti? Não sei sequer porque pensaste que eu precisava de saber isso, acharias tu que eu trairia o meu marido? Acontecesse o que acontecesse, nunca o faria, mesmo sem ter feito promessas, claro que nunca o faria. Mas porque me falavas nisso, porque te justificavas a mim? A quem ou como terias feito a promessa para ser impossível de quebrar, até por mim…

Retirei as minhas mãos das tuas, não podia esconder o que sentia, a minha cara estava ruborizada e os meus olhos estavam brilhantes, eu não percebia o que se estava a passar, o que ía acontecer, mas não podia ficar só a pensar… Ganhei coragem e perguntei-te o que sentias por mim. Ficaste calado uns segundos a olhar para mim, como se pensasses muito bem em cada uma das tuas palavras antes de as dizeres, e quando ouvi a tua resposta, que não era possível ressuscitar os teus sentimentos por mim, eu não sabia se podia, se devia acreditar, porque o que eu lia nos teus olhos era o contrário do que me diziam os teus lábios.

Porque estava eu a sentir tudo aquilo e tu não? Não era possível ressuscitar os teus sentimentos? Seria verdade? Eu preferia acreditar que estavas a mentir para não falhares a tua promessa, era mais fácil acreditar que também me amavas mas não mo podias dizer porque eu era casada e tu também. Fiquei um bocado a olhar para o outro lado do rio, sem ver, sem ouvir nada, a não ser os meus pensamentos, disseste que não era possível ressuscitar os teus sentimentos, mas também disseste que me adoravas demais, se me adoravas tinhas que ter sentimentos, menos fortes mas tinhas que os ter. Tu mudaste, eu também mudei, mas o amor verdadeiro nunca muda, não precisa de ser ressuscitado, porque ele nunca morre, fica apenas adormecido no coração, como uma bela adormecida à espera do beijo, e tu fechaste o teu coração por isso não o podes sentir, mas não morre, apenas adormece, eu sei, porque assim que te vi, o meu acordou.

Eu ainda estava perdida nos meus pensamentos quando recomeçaste a falar, e me disseste “Eu adoro-te, muito, és especial, mas… a minha prioridade é trazer a minha família para cá, tirá-los da guerra e da fome, e tu és indispensável para mim, para te ajudar”

Naquele segundo eu podia ter dito que te amo, mesmo sem forças, mas eu sabia que isso não ia mudar nada… Tu abraçaste-me, e as lágrimas caíram-me pela cara abaixo, pelos sentimentos que saíam por entre os buracos do meu coração, tu apertaste-me com mais força, senti o teu coração acelerado e só quis fugir, fugir dali, fugir de ti, fugir do Mundo, esconder-me onde não houvesse nada nem ninguém, e deixar-me adormecer na minha tristeza simplesmente…

Quando me acalmei, afastei-me de ti, e senti o meu coração a fechar-se como uma porta enferrujada, sem força, a tentar proteger o pouco que sobrava.

Quando caminhávamos para a estação sentia-me fria por dentro e por fora, tu olhaste para mim e disseste: “Não me quero chatear contigo… Sinto-te longe… Estamos a centímetros de distância fisicamente e emocionalmente temos o Atlântico entre nós, novamente…”

Aquela frase deixou-me desesperada, saberias tu que eu te amo, saberias o que sinto por dentro, saberias ou não quererias saber?… No meu desespero pedi-te “Escreve-me uma carta, uma última carta, eu também te escrevo, mas não pode ser uma carta de despedida, por favor, tem que ser uma carta em que dizemos um ao outro o que nunca pudemos dizer, o que não podemos dizer agora… Não escrevemos nomes, nem datas, e só as abrimos daqui a vinte e seis anos. Para não ficarem coisas por dizer, caso não as possamos dizer agora, assim saberemos que quando partirmos as deixamos ficar aqui para o outro as saber…”

Tu olhaste para mim e disseste: “Tanto tempo? Não pode ser antes? Não quero esperar mais vinte e seis anos…” Paraste na rua íngreme que subia a olhar para mim e eu acedi que sim, mas disse-te “Podes abrir a minha, mas eu só abrirei a tua quando tu me disseres que posso”

Tu disseste que sim. Eu sentia que se não fosse assim tu não falarias. Eu podia dizer-te tudo o que não consegui dizer agora, era pelo menos um peso que sairia de dentro do meu peito. Agarraste-me a mão com força, apertaste-a como se me quisesses passar uma mensagem cheia de adrenalina e, depois, largaste-a devagar, olhando-me nos olhos.

O caminho de volta até à estação foi sempre a subir, com a pulsação a subir, do esforço e da tristeza. Chegámos à estação, para ires embora. Abraçaste-me demoradamente, senti novamente o teu coração acelerado e o teu ar quente no meu pescoço, queria beijar-te mas não podia, sentia o teu corpo a responder ao meu duma forma tão inesperada, tão forte que me senti dominada pela vontade de beijar os teus lábios, as nossas bocas estavam cada vez mais próximas e tu não te afastaste de mim, a tua respiração acelerava e a minha impedia-me de controlar os meus batimentos cardíacos, de tal forma que me sentia sufocar, pela vontade de te beijar, pela impossibilidade de o fazer… Afastámo-nos um do outro devagar, olhaste para mim, beijaste-me a face e entraste no comboio.

Acenaste da janela sentado. Uns segundos depois recebi uma mensagem tua no telemóvel, escrita na tua língua dizias “Já te ligo. Amo-te”, olhei para ti confusa, da janela do comboio encolheste os ombros e enviaste-me outra mensagem “Desculpa, foi erro, não era para ti…” O comboio arrancou, eu fiquei sem ar, sem chão, sem nada, ao ver-te desaparecer no túnel da estação, de São Bento. O meu ar não saía, o meu coração parecia que ía rasgar o peito tal era a intensidade com que se debatia nele.

Podia ter sido um dia perfeito… Eu presa, no centro duma porta aberta, dum lado o passado, do outro o presente, até a realidade me ter tocado, primeiro ao de leve, depois, com a força duma rajada de vento na porta, duma mansão vazia, do meu coração, vazio…

Saí da estação. Gostava de ter a capacidade de olhar para tudo como se fosse a primeira vez. Lembro-me de sair de mão dada com a minha mãe naquela estação, do  jardim nos Aliados, onde corri muitas vezes no meio das flores, das lojas com cheiro a café e amendoins torrados, com armários em madeira creme ou verde claro, cheias de portinhas e compartimentos, os frascos de vidro, os sacos de rafia no chão cheios de feijões onde eu enterrava as mãos, lembro-me da Rua de Santa Catarina, do café estreitinho onde a minha mãe me comprava o bolo de arroz, lembro-me de descer a rua 31 de Janeiro até São Bento, a Torre dos Clérigos no meu horizonte, descer aquela rua era um momento especial, uma montanha russa sem cintos nem travões, lembro-me do Porto que eu via com olhos de criança, mas tudo muda com o tempo, principalmente nós próprios, não há como revertê-lo, ele avança e ficam apenas as memórias.

A minha porta tinha-se fechado e atirei a chave para o fundo do oceano, jamais poderia ser recuperada, os meus sentimentos ficarão assim intactos para sempre num sítio distante onde não poderei mais chegar… É melhor para mim, para todos. Agora só me restava escrever-te uma última vez e esperar pela tua carta, a nossa última carta.



Sandra Reis

24 de novembro de 2018

Amizade Verdadeira



Durante a minha vida fiz muitos amigos, na rua, no parque, na escola, na biblioteca, na academia de música, na ginástica, na família, no emprego, na internet, lembro-me dos nomes de todos, mas com os anos, enquanto uns iam e outros vinham, muito poucos foram aqueles que permaneceram, alguns mesmo distantes, mantêm-se no meu coração como irmãos ou irmãs, e um anjo, que já está no Céu.

Por cada amigo verdadeiro, devia ser erguida uma estátua, porque eles, são soldados, que em vez de protegerem um país, nos protegem a nós, às vezes eles próprios sem forças, às vezes eles próprios perdidos, às vezes eles próprios com vontade de fugir. Mas quando precisamos deles, com a esperança duma criança, com a impetuosidade de cem cavalos, com a bravura de mil soldados, com a força de oceanos, eles erguem-se por nós, sem armas, com coragem, eles defendem-nos, protegem-nos, fazem-nos sorrir quando não conseguiamos parar de chorar, correm atrás de nós para nos salvar, põem-se entre nós e os nossos inimigos como um escudo cintilante, caminham atrás de nós para apanharem os nossos pedaços partidos e entregam-nos já remendados, eles ouvem o nosso silêncio quando estamos perdidos, eles encontram-nos quando nos perdemos de nós próprios, eles despertam-nos quando adormecemos por dentro, dão-nos a mão quando temos pesadelos.

Eles são os verdadeiros cavaleiros, juram lealdade e honram-nos com uma amizade inestimável, temos que ser gratos, porque todas as vezes que nos ouviram, foi sempre com o coração, mesmo que, algumas vezes, nada do que disséssemos fizesse sentido.

Sempre prontos para nós, para cuidar de nós, seres humanos inigualáveis, amigos verdadeiros, merecem uma estátua no centro do Mundo.

E um dia, quando tivermos os cabelos todos brancos, sempre que os recordarmos, sorriremos, enquanto uma chama se acende no coração, vertendo uma lágrima, desejando que estejam bem, felizes, desejando que ainda se lembrem de nós, esperando ter-lhes dado tudo o que nos deram a nós, uma amizade verdadeira…


Para vocês, os meus amigos verdadeiros, que eu adoro:

Susy (desde os 8 anos, a primeira carta que escrevi foi para ti)
Joaninha (sempre juntas desde que nasceste)
Pedro (sempre comigo)
Pipinha (sempre pronta a defender-me, e a aquecer-me as mãos quando estavam frias)
Ana Malt. (desde pequenas a ouvir-me com o coração)
Mafa (uma amiga em forma de tesouro, onde guardo tudo)
Moisés (o meu cavaleiro com o escudo cintilante)
Nuno F. Miranda (1975-1997) (o meu anjo da guarda, sempre comigo, onde quer que estejas no Universo...)

Lanche de Inverno





Um lanche reconfortante e aconchegante, fácil e delicioso :)


Croissants:

Ingredientes:
Massa folhada
Manteiga

Ligar o forno a 180ºC.

Estender a massa folhada e cortar em triângulos. Pincelar de ambos os lados com a manteiga derretida. Enrolar os triângulos, começando pelo lado maior, até parecerem croissants :) Colocá-los no tabuleiro do forno em cima de papel vegetal.
Deixar no forno 15 a 20 minutos a 180ºC com ar circulante.

Com doce, compota ou simples são uma delícia de implorar por mais :D


Batido de Morango

Ingredientes:
4 a 6 morangos
1/2 copo de leite de soja
1 iogurte natural de soja
4 colheres de sopa de açúcar

Coloca-se tudo no liquidificador e já está! :D

Bon Apetit!

22 de novembro de 2018

Entre corridas e pincéis



Esta semana foi uma loucura, sempre a correr, sem tempo para ler, escrever, fazer "pause", dormir o suficiente.
Aconteceu de tudo e mais alguma coisa. Imprevistos, greves, veterinário, chuva, veterinário outra vez :) mais chuva, roupa que não seca de maneira nenhuma, mil coisas para tratar, mobília nova a chegar, escolher prendas, festas, preparar convites, reuniões, aniversários (e aqui faço uma pausa, porque esta semana a minha afilhada fez 19 anos, e fico a olhar para ela e a pensar como é possível, que tenham passado assim sem eu me aperceber... Ontem ela era pequenina e hoje tem dezanove anos, é mais ou menos isso...)

O tempo voa, não dá para nada... Às vezes precisava que os dias esticassem 48h!

Entretanto, na Escola pediram-me para escrever e ilustrar uma história infantil de Natal, e desde que me entregaram o enorme rolo de papel para pintar que tenho andado a preparar as ilustrações e a correr contra o tempo com tudo o resto.

Finalmente terminei hoje a história e as ilustrações e já entreguei na escola para prepararem tudo. Amanhã vou ler às crianças! A minha timidez é terrível, custa-me imenso falar para "audiências" com adultos :) Não sei como ultrapassar isso, mas fico sempre muito ansiosa e angustiada com este tipo de situações. Desejem-me sorte! :D

E como hoje está uma noite linda de lua cheia, com uma lua brilhante, enorme e com algumas nuvens a dar-lhe aquele aspecto misterioso, lembrei-me desta pintura a aguarela, com a lua cheia, que fiz em Março.

Tenham uma boa noite! Descansem, sonhem e sorriam!

16 de novembro de 2018

Um Oceano entre Nós - III

* Capítulo I  *  Capítulo II  * Capítulo III * Capítulo IV * Capítulo V *


“Como pode ser tão doloroso ter-te finalmente perto de mim?
Estavas a milhares de quilómetros, um oceano entre nós, e não me sentia assim,
como se uma bola de ar estivesse a encher o meu peito
e a qualquer momento pudesse rebentar dentro de mim.”

Naquele dia no aeroporto, por momentos eu senti-me feliz, tu estavas ali à minha frente, finalmente podia voltar a ver o teu sorriso, o brilho dos teus olhos escuros, estava tão feliz, não havia mais nada entre nós, nem o tempo, nem a distância, nem o ar. Mas a realidade é como o acordar dum sonho e não há como lhe fugir. Quando seguíamos para o elevador do aeroporto, calados, atrás de todos, vi nos teus olhos que me querias falar, e li a correr o que tinhas escrito para mim no teu olhar, também queria dizer-te tudo, tudo, naquele silêncio, mesmo sem palavras, mas não consegui, não permiti que me lesses. Cada vez que olhavas para mim de forma demorada, os meus olhos fugiam de ti, pois temia que o meu cérebro me enganasse e me fizesse esquecer que já não estávamos juntos, temia o meu próprio impulso de me julgar ainda tua, o meu desejo tão forte de te agarrar sem largar mais, de te beijar sem parar. Senti-me amarrada, por fora e por dentro, tão desesperada e tão sozinha.

Juntámos-nos aos outros no elevador. Descemos com as gargalhadas felizes de todos, eu sorria, tu sorrias, mas havia um silêncio dentro de mim, fora de mim, à nossa volta, como se os ouvisse longe, como se eu e tu estivéssemos sozinhos dentro de uma bolha invisível e os outros num mundo paralelo.

Saímos do elevador e seguimos para os carros, continuávamos a sorrir, mas ao mesmo tempo sentia-me tão confusa, tão triste, não queria que fosses, não te queria deixar ir, mesmo que a distância agora fosse curta, mesmo assim, continuava cheia de saudades.

Entrámos em carros diferentes e, naquele curto instante, senti um golpe no peito, ainda mal tinhas chegado já te via a partir, embora perto, inalcançável para mim. Foste para casa dum primo, e eu voltei para a Biblioteca, para o trabalho, com aquele aperto no peito, a cabeça tão longe. Durante uns minutos refugiei-me entre os corredores de livros, tentei respirar, tentei ficar calma, à minha frente, nas prateleiras só via centenas de barras de cores diferentes com letras baças, eu não podia chorar, ali... Sequei as lágrimas e fui trabalhar com o coração a rebentar dentro do peito.

***

Até hoje. Passaram 72h, três dias, desde que tiveste os pés a centímetros e os olhos a milímetros dos meus, desde que me abraçaste finalmente. Hoje, depois de alguns obstáculos que o destino nos pregou durante estes três dias, vieste a minha casa. Almoçaste comigo, com o meu marido e conheceste o meu filho. Pudemos conversar, rir, contar, ouvir e pensar juntos. Mas ele estava ali, a olhar para nós, a falar, a ouvir, a pensar também. Eu podia dizer que ele não merecia o que eu estava a sentir por ti, mas no fundo da minha alma, eu sentia que sim, por cada lágrima que me fez chorar, por cada insulto que me fez silenciar, por cada marca que me deixou no corpo e na alma. Eu não conseguia sentir remorsos.

Ao fim da tarde fui-te levar a casa do meu primo. Pediste-me um abraço antes de entrarmos no carro, eu fui a correr para to dar, apertaste-me com força e começaste a dançar comigo ali mesmo na garagem. Rimo-nos e entrámos no carro. Seguimos até ao destino mas enquanto conduzia sentia que era o momento, podia não haver outro, tínhamos que falar, então fiz um desvio e parei, tu olhaste para mim e riste-te, porque percebeste porque estávamos ali. Na mesma praia onde tínhamos passado a maior parte das noites no Verão há vinte e seis anos. Saímos do carro e caminhámos até à areia, o pôr-do-sol era quase tão forte como o que eu sentia naquele momento. Queria dizer-te, mas não conseguia. Sentámo-nos apenas na areia a ver o Sol a desaparecer no horizonte, o mesmo horizonte onde, há muitos anos atrás, eu via montanhas e imaginava-te nelas, do outro lado do oceano.

Finalmente a coragem subiu pelo meu corpo como um arrepio eléctrico e perguntei-te porque paraste de me escrever, porque não foste capaz de me dizer que tinhas encontrado outra pessoa, porque não me deste o direito da despedida, de fazer o luto deste sentimento. Os teus olhos fixaram-me interrogativos, abanaste a cabeça, parecias incrédulo. Quando me respondeste, fiquei sem palavras, quando me disseste que nunca tiveste mais ninguém, que eu é que te magoei com a minha última carta, onde te escrevi que me sentia sozinha, que tinha encontrado outra pessoa, uma que podia estar comigo todos os dias, que me dava todo o amor que eu precisava… Não podia acreditar no que dizias, estaria eu maluca? Continuaste a falar, a contar que sofreste durante mais de cinco anos, sozinho, que te fechaste para o mundo, não dormias uma noite seguida, e sonhavas sempre comigo, não conseguias respirar sem mim, tiveste que andar num terapeuta para te ajudar… Que foi por isso que não me escreveste mais, porque eu te destruí com aquela carta…

Naquele instante o Mundo girou ao contrário, sentia-me uma árvore a quem arrancaram as raízes da terra, uma pedra minúscula, insignificante, que chutaram para o mar, para longe de qualquer possibilidade de voltar onde estava um dia. Tentei pensar, pensei, ele olhava-me nos olhos, eu olhava nos dele, mas como me podia lembrar de algo que eu não tinha feito? Não tinha, nada daquilo tinha acontecido, nunca escrevi uma carta assim, nunca o faria, nunca quis saber de mais ninguém durante anos. E, como a incidência da luz dum farol nos meus olhos, eu percebi, e tudo fez sentido.

Naquela altura, quando contei aos meus pais eles disseram que não podíamos ficar juntos, que era errado, mas nós não nos podíamos resignar e contrariamos tudo e todos, lutamos pelo nosso amor a milhares de quilómetros de distância numa batalha em que não tínhamos aliados, a não ser um ao outro.

Os meus pais acabaram por se calar meses depois, mas foram outros familiares, chegados, a quem não contámos nada sobre nós, foram esses mesmos familiares que me disseram que tinhas uma namorada, que chegaram a levar as minhas cartas fechadas ao correio para ti, quando estive doente, foram esses mesmos que nos enganaram aos dois, que nos separaram sem piedade, sem coração…

Afinal havia uma razão para teres deixado de me escrever, e não era uma mulher, afinal alguém te escreveu a minha última carta, e não fui eu… Perguntei-te se te lembravas da letra da carta, disseste que quando a leste não viste mais nada, rasgaste a carta e fechaste-te no quarto a chorar, enquanto o teu irmão te implorava que abrisses a porta… Senti mais um punhal no meu coração, como se pode rasgar um coração que já está todo esfarrapado?... Eu amava-te, tu amavas-me e agora, estamos separados…

Depois da revolta, a realidade apoderou-se de mim. Não podia acreditar que estava tudo perdido entre nós por causa de outra pessoa, como pudemos acreditar, porque não falamos mais um com outro? Porque não te liguei, não te escrevi mais, porque pensei simplesmente que me tinhas deixado por outra, só porque mo disseram?... Perdi-te por algo que podia ter sido evitado.

Querias chorar, os teus olhos brilhavam, mas havia tanto sofrimento escrito neles que não verteste uma lágrima… O desespero que sentia no peito, aquele desespero que se sente quando giramos os ponteiros do relógio para trás, mas o tempo não recua nem um milésimo de segundo, essa impotência fez-me chorar. Agarraste-me a mão, abraçaste-me e ficámos assim, perdidos, num abraço de perdão com mais de vinte anos de atraso.

Tudo acabava de mudar entre nós, nem eu te tinha deixado, nem tu me tinhas deixado, afinal nenhum de nós tinha deixado de amar o outro, apenas fomos obrigados a fazê-lo, a esquecermo-nos para sobrevivermos.

Eu agora sabia que o meu amor não tinha acabado, assim que te vi, percebi e senti-o de novo a arder dentro de mim, mais forte do que antes, mas tu tinhas acabado de casar há meses, e eu sentia-me a pior mulher do mundo por não querer saber disso, por só te querer de volta, fosse como fosse…

Estávamos ainda envolvidos num abraço, as minhas lágrimas já tinham secado no calor da tua pele, sentia os teus lábios no meu pescoço, o teu ar quente, só me apetecia beijar-te, o teu coração estava acelerado, o meu também, desceste um pouco com a tua boca no meu ombro e largaste-me de repente, pediste-me para irmos embora. Disseste que tínhamos que pensar. Concordei contigo e fui-te levar, para casa dos familiares, onde estavas agora a morar, os mesmos que um dia nos separaram, os mesmos que pensámos até hoje que não sabiam nada sobre nós, fui-te levar para casa do inimigo. O inimigo que te estava a ajudar a reconstruir a tua vida no meu País e, por isso, mais uma vez, tínhamos que ficar calados… Estaria ainda esse amor dentro do teu peito? Seria possível resgatá-lo, acordá-lo?

Teria que esperar dois dias para te ver de novo, parecia uma eternidade… Beijaste-me no rosto ao sair do carro, já sentia saudades tuas. Mas mal desapareceste, enviaste-me uma mensagem a dizer: “Adoro-te”, que me fez sorrir e aliviar o coração. Estava ansiosa pelo nosso próximo encontro.


(Continua…)

15 de novembro de 2018

Uma espécie de "Mousse Pudim"



Este doce foi uma experiência que correu bem. Queria fazer uma sobremesa rápida e fácil e que não fizesse muito mal. Já repeti pelo menos 3 vezes com sabores diferentes e tem sido sempre muito bom!

3 iogurtes gregos com de polpa de morango (também há de soja)
1 lata de leite condensado light
4 folhas de gelatina
6 morangos
4 quadradinhos de chocolate (se quiser)

Enrolei as folhas de gelatina e enfiei-as de molho num copo cheio de água fria.
Misturei os iogurtes e o leite condensado numa taça.
Fervi 30 ml de água num coco pequeno, espremi a gelatina e enfiei dentro do coco abanando-o em vez de mexer com uma colher, próximo do lume, para não agarrar no fundo, até desaparecer a gelatina visível toda
Coloquei a água muito devagar na mistura e fui misturando a pouco e pouco
Virei tudo para uma travessa e decorei com morangos (previamente lavados e cortados).
Divinal! :D

12 de novembro de 2018

#4 * 700Kms de Paisagem e História


Há quem viaje para se afastar. Eu viajo para procurar, descobrir, aprender, para ser surpreendida, maravilhada, para me encontrar comigo própria. O Mundo é o livro mais antigo e valioso que existe, a cada viagem que faço, desvendo páginas novas de biliões de histórias que jamais conheceria se não estivesse lá, se não fosse, lá, onde elas aconteceram.

Foram 700Kms nesse fim de semana. 376 no sábado e 324 no domingo, não havia muito tempo, mas mesmo assim tentámos e aproveitámos ao máximo, fizesse sol ou fizesse chuva.

Acordámos às 5h no sábado para nos encontrarmos todos às 6h30 e às 7h saímos do Porto ligeirinhos até à Régua, onde chegámos antes das 8h para tomar o pequeno-almoço. Daí seguimos sempre pela N222, considerada a melhor estrada do Mundo, desde o Peso da Régua até ao Pinhão e uma das mais bonitas também. Com 93 curvas em 27km, foi apelidada, por alguns, de “Route 66” portuguesa. (Uma fórmula matemática provou que esta estrada é a melhor para conduzir, tendo em conta o comprimento das retas e o raio das curvas.)

Seguimos a N222 até Foz Côa. As paisagens são qualquer coisa de inexplicável. Sente-se a natureza duma forma muito mais intensa.
Visitámos vários sítios diferentes durante os dois dias, cada um deles mais belo que o outro. Foi um passeio fantástico, daqueles que não queremos que acabem, com amigos chegados, cheio de gargalhadas, daquelas que fazem doer os maxilares, e paisagens avassaladoras. Uma das melhores que fiz até hoje!
Deixo-vos com algumas fotos. Mas nada como ir lá, para ver mesmo a 360º, para sentir, para respirar.




Castelo de Numão

Não estava nos planos, encontrámo-lo devido a um engano no caminho e foi uma bela surpresa. As vistas, o sossego, as muralhas do Castelo, vale a pena conhecer.









Ruínas do Prazo

Descobri-as no Blogue Olhar d' Ouro.
Foi bastante interessante, estar em contacto com tantas idades da História diferentes, conhecer e descobrir mais sobre todos aqueles que povoaram o mesmo território que nós, um dia. "Profanámos" alguns túmulos, que ainda questionámos se seriam realmente túmulos ou bebedouros dado a sua pequenez e estreiteza. Gostei muito das ruínas e de todo o cenário do vale.
 




Saucelle (Miradouro do Salto)

O que parecia ser um caminho curto, afinal foi um caminho longo devido à enorme quantidade de curvas, mas valeu bem a pena. Atravessando Torre de Moncorvo e Freixo de Espada à Cinta fomos dar a Saucelle e subimos até ao Miradouro do Salto onde as vistas são estrondosas.











E dali voltamos para Foz Côa, pela N325, para ser um caminho diferente. A noite foi passada na Quinta do Chão d'Ordem em Muxagata, um sítio fantástico, dona e funcionária super simpáticas, prestáveis, e um pequeno-almoço de rei, muitos animais, piscina, paisagens lindas....




Chegado o segundo dia, só rezávamos que não chovesse, mas choveu um bocadinho e mais um bocadinho, mas até deu para rir :)
Miradouro de São Gabriel

Saímos de Muxagata em direção a Foz Côa para ir até Castelo Rodrigo. A meio desviamos para o Miradouro de São Gabriel de onde a vista tem 360º e é avassaladora. Ali sim, ouvimos o silêncio.




Castelo Rodrigo

Uma aldeia no topo de uma colina, lindíssima, de tons alaranjados.
"O território de Riba-Côa foi ocupado desde tempos remotos, havendo vestígios paleolíticos, megalíticos, da cultura castreja, romanos e árabes (...) Conquistada aos Árabes no séc. XI e dependente do Reino de Leão, foi vila elevada a concelho por Afonso IX, integrando definitivamente o território português a 12 de Setembro de 1297, pelo Tratado de Alcanizes - assinado por D. Dinis, que confirmou o seu Foral em Trancoso e mandou repovoar e reconstruir o Castelo, ação repetida por D. Fernando I em 1373. (...) Castelo Rodrigo está rodeado por uma cintura amuralhada inicialmente composta por 13 torreões (à semelhança de Ávila). Pelas suas ruas encontram-se casas interessantes, umas manuelinas, outras construções árabes, como a casa nº 32, com inscrição e uma carranca, para além da cisterna, de 13m de fundo, com uma porta em arco de ferradura e outra ogival. (...) O pelourinho manuelino - de gaiola e grandes dimensões, atesta o poder municipal, regulamentado pelo foral novo de 1508, altura em que D. Manuel, o Rei Venturoso, mandou repovoar a vila e refazer o castelo. (...) Ainda nas lutas contra Espanha, a vila sofreu em 1664 o cerco do Duque de Ossuna, tendo a sua guarnição de 150 homens resistido heroicamente até à chegada de reforços, travando-se a batalha da Salgadela, junto ao Mosteiro de Santa Maria de Aguiar. Após as Guerras da Restauração, a 25 de Junho de 1836, por Carta Régia de D. Maria II, a sede de concelho foi transferida para Figueira de Castelo Rodrigo. Historicamente, nenhuma povoação raiana exerceu por tão longo período um lugar tão relevante nas relações Luso-Castelhanas e na defesa do território português."




Reserva da Faia Brava

Depois do almoço e algumas chuvadas seguimos para a nossa última passagem, já conhecida, mas impossível de ignorar, Marialva. Seguindo por uma estrada totalmente desconhecida, acabamos por ir dar a um sítio maravilhoso, toda a paisagem era de cortar a respiração, só quero lá voltar com tempo para conhecer cada pedaço daquele sítio. Fiquei totalmente rendida e sem palavras.
Reserva Faia Brava











Castelo de Marialva

E, depois daqueles quilómetros surpreendentes, cheios de fauna e de flora, protegidos e privilegiados, chegámos a Marialva, entre o sol e a chuva, com direito a arco-íris, e fomos visitar mais uma vez o Castelo, como se fosse a primeira vez.
  #2 Marialva









Espero que tenham gostado!