Este blogue é um ponto de encontro com amigos desconhecidos que se reconhecem nas palavras e nos gestos, aqueles por vezes tão comuns que deixamos de reparar, até alguém nos voltar a falar deles, como se fosse a primeira vez.

Música

28 de outubro de 2018

Um Oceano entre Nós - I

* Capítulo I  *  Capítulo II  * Capítulo III * Capítulo IV * Capítulo V *

No dia que entraste naquele avião, eu senti-me morrer. Morrer de saudades, mesmo antes de ver o avião a descolar do chão, o mesmo chão que eu pisava, onde eu sabia que em poucos minutos deixarias de estar também. Mas eu acreditava que voltavas. Eu sabia que voltarias. Esperei por ti, todos os minutos, todos os segundos, eu esperei por ti, escrevi-te todos os dias, tu escreveste-me todos os dias, durante meses, durante um ano, cartas cheias de páginas, tu escrevias na minha língua, eu escrevia na tua, e, de um momento para o outro, o nosso mundo desabou… Proibiram-me de te amar, deixei de receber cartas tuas, perdi-te a milhares de quilómetros. A vida colapsou entre nós e nem sequer pudemos dar um abraço, um último beijo, nem sequer pudemos olhar nos olhos um do outro e falar… porque havia um oceano entre nós…

Acreditei tantos anos que tu voltarias um dia, que haverias de me querer outra vez, sonhei com isso, esperei, mas os anos passaram e a vida, essa, não me deu folgas… A minha mãe adoeceu, o meu melhor amigo morreu, tu casaste, tiveste um filho, eu chorei como se o chão tivesse aberto um fosso nos meus pés, senti-me perdida, perdi toda a esperança, perdi-me… Tentei não pensar mais nos meus sentimentos por ti, doía demais e, muitos anos depois, casei também. No ano seguinte, escreveste-me a dizer que querias falar comigo, e contaste-me que te tinhas divorciado, que sentias a minha falta, que não me esqueceras, eu estava grávida do meu filho, senti-me dilacerada… Não te podia dizer que ainda te amava, não podia, não sabia o que fazer e escondi-me, atrás das próprias grades que eu criei, para proteger o meu filho do sofrimento, do desgosto…

Ele nasceu, amei-o todos os segundos, sorri-lhe todos os dias, no brilho dos olhos dele acreditei que fiz o que estava certo, o que qualquer mãe faria…E enquanto o via a crescer, o meu coração desfazia-se como grãos de areia com o tempo, sem ti…

Seis anos depois, escreveste-me a dizer que ias voltar. Passados vinte e seis anos, irias atravessar o oceano entre nós… Mas naquele instante enquanto a luz da esperança parecia brilhar como uma estrela, também me disseste que ias casar… Pensei que não podia extinguir-me por dentro outra vez, mas foi como se me tivessem dado um choque para me reanimar, só para poder morrer outra vez…
Embora viesses sozinho para o meu País, o teu coração tinha novamente dono e não era eu…

Tive medo de acreditar que voltarias mesmo, até porque em algum dia eu deixei de acreditar que voltarias, não depois de tantos anos, não pensei que pudesse cair tal explosão tipo quasar na minha vida. Muito menos agora com as nossas vidas alinhadas em quadrantes diferentes…

Quando me disseste o dia e a hora do avião, eu acreditei. Acreditei que ias voltar. E, durante meses, rezei, eu que nunca fui de rezar, rezei, pedi, implorei, para que nada te impedisse, para que nada acomtecesse, para te poder voltar a ver, nem que fosse só mais uma vez. Contei cada dia, cada hora, cada minuto, até hoje. Esta semana, mal dormi, mal comi, mal consegui pensar, mal respirei…

Só quero ir a correr, abraçar-te, quero agarrar-te e nunca mais te largar…

Agora, chegou finalmente a hora, eu estou aqui no aeroporto, o teu avião já aterrou, e eu estou aqui sem conseguir tirar os olhos da porta de chegadas, à espera de te ver, vinte e seis anos depois. Não consigo inspirar, a cada minuto que passa eu fico com mais medo que não saias daquela porta, porque não sei se entraste mesmo no avião, e, para mim, que esperei tantos anos, estes minutos deviam parecer curtos, mas, no entanto, parecem um caminho tumultuoso sem fim…

(Continua...)

Sandra Reis

59 comentários:

  1. Li esta parte com o coração nas mãos, de peito apertado, mas também com alguma esperança. Há tanta verdade nas palavras, que é fácil relacionarmo-nos com a história, mesmo que nunca tínhamos passado por uma experiência deste magnitude.
    Estou desejosa de ler a continuação *-*

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    1. Obrigada.
      Eu própria fico assim quando escrevo, parece que não temos domínio sobre as personagens e a caneta nas nossas próprias histórias :)
      Não deixa de ser algo transcendente e engraçado, não achas?
      Beijinho grande

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  2. Um começo muito promissor. Vou ficar de atalaia à espera de mais.
    Abraço e boa semana

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  3. Despertou a minha curiosidade para o que se segue.
    Boa semana

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  4. Interesting post, dear!! I love it!
    Hugs ♥

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  5. Muito lindo, intenso e vamos esperar mais! Gostei! Bjs praianos,chica

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  6. Encontros e desencontros do amor. Gostei da intensidade da escrita. Fico à espera de mais…
    Uma boa semana.
    Um beijo.

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  7. Porque havia um oceano entre vós,
    e um coração desenhado na areia
    continuavam a ouvir a vossa voz
    a qual a nenhum de vos era alheia!

    Tenha uma boa tarde amiga Sandra Reis.
    Bjs.

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  8. Olá, Sandra!

    Estive a ler este teu excelente e emocionante texto, que não sei se tem algo a ver com o anterior, mas prendeu-me da 1ª à última linha.

    Caramba, isto é real ou ficção? Não é para reponderes. Hei de descobrir nas tuas palavras, a verdade deste amor.

    Deixei-te um comentário há uns tempos (e não atrás, como vulgarmente dizemos, um pleonasmozinho inocente), mas não lhe ligaste nenhuma ou talvez tenhas ido ao meu blogue, mas este nada te dissesse. Admito, perfeitamente.

    Estou "mortinha" que o teu quasar apareça e traga energia, muita, e mto, mto amor para te dar e naturalmente receber. E foram felizes para sempre. Este vai ser o final da história, da vossa história, eu acredito!

    Beijos e uma boa semana. Em Lisboa está mto frio, mas no Porto, creio, k estará pior.

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    1. Obrigada pelas palavras. Real ou não, a verdade é que em toda a ficção há sempre pedaços de realidade :)
      Eu respondi ao teu comentário no meu blogue. Lembro-me de ter ido ao teu blogue, mas na altura, por alguma razão não consegui comentar, às vezes acontece-me isso, talvez seja do tlm. Não é só no teu blogue. Acontece algumas vezes. Mas depois não me lembrei de tentar de novo no dia seguinte. Mil desculpas.
      Obrigada por comentares.

      Aqui está um frio terrível desde ontem. Nem me saem da cabeça os sem abrigo... :(
      Há muitos aqui no Porto...

      Beijinhos

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    2. De nada, Sandra! Tens toda a razão, aliás por vezes, a realidade e a ficção confundem-se.

      Não me lembro ou se calhar nem li. O meu blogue qdo já tem um elevado número de comentários, faz-se "manhoso", ou seja, "recusa-se" a receber mais amigos. Enfim, é regra do Blogger! A partir de 195 ou 196 comentários, creio eu, eles só aparecem nos blogues, se clicarmos em "carregar mais" e além disso o Blogger avisa-nos de k o post está a atingir quase o limite máximo de comentários. Eu ando sempre nisto -rs, pke posto só de mês a mês, para poupar as minhas mãos, k foram as duas já operadas por Contratura de Dupuytren.

      A mim, tb me acontece ir a blogues e não conseguir comentar nessa vez, mas depois volto e lá escrevo umas coisinhas, sim, pke como já te apercebeste eu escrevo poucachinho -rs.

      Não peças desculpas! Para a próxima será perfeito.

      Aqui, tb, mas o Norte é mto mais frio k Lisboa. Agasalha-te e às tuas princesas, tb.

      Bem, eu estou tremelicando de frio, atrás de ti, no aeroporto -rs.

      Beijinhos e bom reencontro.

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    3. De facto, não consigo comentar porque já têm o máximo.
      Desejo as melhoras para as mãos.
      Beijinhos

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  9. Olá Sandra. Há muito tempo nãovinha aqui e também tenho andado bastante ausente de oitros blogs; tenho andado ocupada a ajudar a minha filha com a bebé que nasceu precisamente há um mes; agora, a minha ajuda não é tão necessária e terei mais tempo para os meus amigos. Gostei da primeira parte deste " conto " e cá estarei para ver o final. Escreves muito brm, amiga! Parabéns. Um beijinho e uma boa semana, apesar do frio ( detesto o inverno que parece já ter chegado ). Até...
    Emília

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    1. Parabéns pela netinha, antes de mais, Desejo-lhe tudo de bom.
      Obrigada pelo comentário
      Muitos beijinhos

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  10. Caramba que história...
    Do realismo ao imaginário, a realidade é que há muitos amores e desamores a cada virar de esquina, encontros e desencontros que a vida nos proporciona.
    Beijo Sandra.

    Rui
    Olhar D'ouro - bLoG
    Olhar D'ouro - fAcEbOOk
    Olhar D'ouro – yOutUbE * Visitem & subcrevam

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  11. Boa noite, querida amiga!
    Ontem li seu post é enviei a uma amiga de 45 que está lutando para sair de um quadro similar.
    Hoje venho comentar com mais calma e amor assim tão sofrido doi demais.
    São mistérios amorosos que não entendemos e que nos deixam confortáveis nem só de ler que seja. A impressão que dá é que só um ama e o outro guarda por uma emergência a outra parte, não mais.
    Acho uma história triste.
    Claro que o conto está super bem escrito e histórias como esta estão ai por todo canto e quiçá em nossas famílias.
    A pessoa que enviei se identificou muito também assim que não um só sente este questionador amor.
    Deus a abençoe muito!
    Bjm fraterno e carinhoso de paz e bem

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  12. Sentir saudade nem sempre é algo bom, na verdade, em geral, não é, na minha opinião, mas há momentos em que é possível não sentir, o texto me fez lembrar de uma música do Gilberto Gil cantada pela Bethânia que diz assim: "que bom morrer de saudade, e de saudade viver". Um abraço!

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  13. Gostei e ficarei atento à continuação.
    Tudo de bom.

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  14. Bom dia, Sandra
    Gostei, MUITO, deste início!
    Escrito com o coração - o que imprime um cunho muito especial às palavras utilizadas.
    Uma história muito bem estruturada, com ritmo, e muito bem escrita (infelizmente lemos por aí coisas num português tão mau que até arrepia... 😢. Acho que Camões dá voltas e voltas na campa...)
    Continuarei a acompanhar - COM TODO O INTERESSE, É CLARO!!!

    RE: Rectificando: não falta só um dia, faltam só... 13 horas. O parto está programado para logo, às 0 horas. Salvo raríssimas excepções publico sempre às 0 horas do dia 1 de cada mês.

    Continuação de boa semana.
    Beijinhos
    MARIAZITA / A CASA DA MARIQUINHAS

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  15. Boa noite, Sandra, li com toda a atenção que merece esse belo texto, o qual conta uma história de amor que parece não ter se apagado com o passar do tempo. Sem dúvida, a continuação desta história deve merecer nossa leitura. Parabéns.
    Um bom final de semana.
    Abraços

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  16. Oi querida,
    Nossa vida é um conto com infinitos capítulos que quando damos por nós o tempo passou, dos sulcos da face escorreram muitas lágrimas, nosso viço acabou.
    A única coisa que temos que ter em mente é não perder a esperança de viver bem: seja com o amor que se foi ou com aquele que nos ama. Um filho é a força que temos para contar nossa vida.
    Beijos
    Lua Singular

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  17. Uma história absolutamente emocional de uma mulher que ama intensamente um homem que não a merece.

    Fiquei com curiosidade de saber a nacionalidade dele. Ela é de certeza, portuguesa.

    Saudações de Düsseldorf 😘

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  18. Será que vem? Ou é novamente uma ilusão? A dor da incerteza....
    Gostei muito...
    Obrigada pela visita
    Marta

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  19. Gostei muito :)
    Vamos espera pela continuação porque merece ser lida.
    Um beijinho

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  20. Ei querida.
    Seu blog é lindo, venho agradecer a visita
    e desejo que fique confortável
    seguindo o Espelhando.
    Vou passear entre suas postagens
    e voltarei para comentar.
    Bjins
    CatiahoAlc. do Blog Espelhando

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  21. Um texto de emoções fortes.
    É magnífico, na forma e no conteúdo. Mas continua... que maldade... estava à espera de ver o final...
    Sandra, um bom fim de semana.
    Beijo.

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  22. gostei muito do texto :)

    r: obrigada, beijinhos !

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  23. Que texto fantástico...
    Lindo mesmo!

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  24. É uma história real?
    Achei muito verdadeira e me vem a cabeça aquilo de que o é pra ser será, não importa o que aconteça.
    Estou curiosa pra saber a continuação.

    https://heyimwiththeband.blogspot.com/

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  25. Uma história interessante vamos ver como continua. Beijinho e bom fim-de-semana.

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  26. Olá Sandra
    Fiquei de olhos grudados na tela de tanta emoção mas... a história continua e minha emoção sofreu uma ruptura...
    Obrigada pelas visitas e palavras de carinho
    Beijocas

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  27. Boa noite,Sandra
    Amei o seu texto e estou curiosa para saber a continuação.
    Obrigada por seguir o meu espaço.
    Um grande abraço de
    Verena.

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  28. Sandra antes de mais obrigado pela sua visita e presença no meu cantinho, também já a estou a seguir para melhor acompanhar as suas histórias e pensamentos.
    Adorei a forma tocante como escreve e vou ficar esperando pelo desenrolar desta história tão intensa e bela.
    Bom fim de semana
    Beijinhos
    Maria
    Divagar Sobre Tudo um Pouco

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  29. Tanto sentimento, até dá um aperto no coração! Fico à espera do resto. :) Beijinhos
    --
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  30. Lindo conto, real ou ficção, mas que prende a atenção, isso prende! Lindo de se ler!Estou indo para a continuação!
    Abraços apertados!

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  31. Gostei muito deste início e estou muito curiosa para ler mais.
    Senti um misto de emoções ao ler este excerto desta história.
    Beijinhos

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  32. O amor verdadeiro nunca morre. Segue com agente.Vou seguindo os capítulos.

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  33. Quero agradecer visitar o meu simples blogue porque deu-me a conhecer o seu.
    Fiquei fascinada logo pela descrição do blogue "Cinderela"
    E é fascinante esta história que pode muito bem ser ficção ou realidade mas que o Amor permanece.Irei certamente ler o 2º capítulo
    Beijinhos

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  34. Encontros de almas... perante os desencontros da vida... vou adorar, esta história, que já me prendeu, assim, que comecei a ler...
    Adoro a forma como escreves... e como nos fazes sentir tudo... através das tuas palavras...
    Beijinho
    Ana

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  35. Vidas desencontradas. Li-te com ansiedade, como quem vive essa dor.

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  36. Entretanto, já estou a compreender a história de um amor 💓 desencontrados.

    É um pouco difícil ler a história, porque de repente desaparece misteriosamente.

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  37. Parabéns, você escreve maravilhosamente!

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Obrigada pela visita