“Nem todas as guerras do Mundo são para confrontar o inimigo, às vezes temos que nos enfrentar a nós próprios, à verdade dentro de nós, perceber se queremos ganhar ou perder essa guerra, para, finalmente, voltarmos a ter paz”
S.R.
Mas não conseguiu olhar e voltou a fechar… Que mais precisava ela para ter coragem? Era tão difícil explicar a quem nunca sentiu o mesmo, como era deitar-se todos os dias na cama e chorar até adormecer, sozinha, sem ele, sem uma verdadeira despedida, um último abraço, um último beijo. Se o amor eterno era assim, doía demais…
Deitou-se agarrada à caixa, como se ali estivesse a última palavra dele, o último abraço, o último beijo, como se pudesse prolongar aquela sensação. Pelo menos mais uns minutos… Pelo menos mais uns minutos a acreditar que ele podia estar vivo, em algum lado, a pensar nela, à espera dela…
Fechou os olhos, as lágrimas corriam, como nascentes a inundar caudais de rios atormentados há anos, até àquele mar onde tudo continuava igual… Sem um porto seguro para se aconchegar, apenas uma âncora a puxá-la para o fundo das águas escuras, iluminadas apenas por segundos pelos relâmpagos que caíam, e ondas tortuosas que a faziam girar e girar, sem a deixarem encontrar um caminho seguro, sem a deixarem seguir em frente…
Uns minutos depois, as lágrimas pararam e sentia o peito mais leve, sentou-se, limpou as lágrimas e, sem pensar duas vezes, levantou a tampa com a árvore esculpida.
Assim que a tampa abriu, ela ficou sem palavras, sem ar para emitir qualquer tipo de som, incapaz de fazer vibrar qualquer corda vocal… A caixa tinha sido esculpida por ele… Agora ela percebia a árvore na tampa, ao ver no interior a mesma frase que no bilhete… ”Aconteça o que acontecer, o que nos une é eterno”, ali esculpida… A árvore na tampa, era igual à que estava no jardim dela há centenas de anos… A mesma onde um dia ela se escondeu dele, e ele apareceu de repente, sem sorrir, com aquele olhar sério nos olhos dela que a deixou sem fôlego, a encostou devagar contra o tronco, e a beijou, pela primeira vez…
Ele tinha feito uma caixa para ela… Mas quando? E porque lha davam agora?
As respostas difíceis talvez estivessem lá dentro… Havia uma pulseira em cima dum papel branco. Ela pegou na pulseira e enfiou-a no pulso, tinha minúsculas flores azuis secas e pequeninos búzios entrançados num fio, de onde seria? Teria algum significado?... Pegou no papel branco e virou-o, era uma foto…
Ao ver aquela foto sentiu um aperto no peito, aquela imagem era intensa demais… Era a primeira vez que via uma foto deles, juntos. Estavam no alpendre da casa dele, o Pipo ainda bebé, no meio deles ao colo.
Lembrava-se tão bem daquele dia, agora a memória ainda mais viva com aquela foto, parecia ontem… O pai a entrar em casa de cão ao colo, ela incrédula pegou naquela bolinha de pêlo, abraçou o pai e saiu a correr feliz para a casa dele, só duas casas ao lado, para lho mostrar, até escolheram o nome juntos, Pipo, em honra à enorme barriga redondinha. Só agora se recordava do pai dele tirar-lhes uma foto... Se soubesse que três anos depois ele seria chamado… Talvez pudesse ter impedido…
O Pipo, estava deitado ao lado dela no sofá a observá-la como se lhe pudesse ler os pensamentos, estava quase a fazer uma década desde a foto dos três. Será que o Pipo ainda se lembrava dele? Não o via há seis anos, mas dizem que os cães nunca se esquecem… Como ela gostaria de saber…
No fundo da caixa havia uma carta. Pousou a foto à frente, na mesinha, e pegou na carta, como se pesasse toneladas. Agarrou-a com as mãos trémulas e abriu-a, datava de há dois anos já...:
Minha querida, minha adorada, amor da minha vida:
Não imaginas o que aconteceu. Quando tudo parecia estar a acabar finalmente e eu já contava os minutos para te voltar a ver, agarrar a tua mão, beijar-te… Fizeram-nos uma emboscada de noite e fomos apanhados. Somos prisioneiros de guerra há três anos e só hoje consegui uma caneta. Deves pensar que morri, e sem ti é como se estivesse morto… penso em ti todos os minutos, quem me dera poder fugir e ir ter contigo. Tenho medo que tenhas desistido de mim…
Não sei o que me irá acontecer aqui. Gostava de fugir mas se fugisse era certo que nunca mais te voltaria a ver… Eles não perdoam… Espero que me perdoes. Tinha esperança que o nosso País conseguisse um acordo e nos viesse buscar. Mas já passaram 3 anos… Eles não estão a cumprir a Convenção de Genebra e fazem tudo para conseguirem informações, torturam e já mataram alguns colegas meus….
Como temos que fazer tudo o que mandam, principalmente construção, guardei alguns pedaços de madeira e fiz uma caixa para ti com a faca que uso para comer.
Guardo a nossa foto comigo, os meus pais deram-ma no dia que vim para cá, mas aqui não é seguro tê-la comigo e guardei-a na caixa, debaixo do chão… A pulseira, achei que era feita para ti, adoras a Natureza e o mar… Espero dar-ta um dia. São crianças que as fazem junto às praias, pedi essa para ti, e a menina, talvez de seis anos deu-ma com um enorme sorriso, eu dei-lhe todas as bolachas que tinha no bolso.
Aqui as crianças fazem passam fome… A guerra destrói tudo, incluindo as pessoas, as famílias… É horrível…
Pergunto-me todos os dias como estará o Pipo, os meus pais, os teus pais? E como estarás tu?... Quero tanto que estejas bem…
Espero voltar a ver-te um dia, nem que seja na próxima vida, ou em todas elas, o meu coração será eternamente teu. A cada segundo és só tu que me fazes aguentar este pesadelo. O teu sorriso é a minha força.
Não posso escrever mais. Não tenho mais papel…
Teu eternamente
P.S. - Cuida dessa árvore da caixa, da mesma forma fazias com a nossa árvore, quando queríamos manter os nossos segredos seguros.
(Continua...)
S.R.
Boa noite de paz e saúde,querida amiga Sandra!
ResponderEliminarTer um sorriso com um talismã é uma benção.
História interessante.
Toda história de Amor é um clássico.
Dei o nome a um livro meu assim .
O amor é lindo demais.
Vamos acompanhando...
Adoro histórias de Amor.
Tenha dias abençoados!
Bjm carinhso e fraterno
Acabei de ler os dois capítulos. Uma história emocionante que me toca fundo porque o meu marido sempre foi militar e vivemos até ao 25 de Abril uma guerra em que muitas vezes escasseavam as notícias e o coração estava sempre em sobressalto. Publiquei um livro com uma história baseada num jovem que desapareceu numa emboscada, foi dado por morto, mas foi recolhido por um chefe indígena que o tratou Esteve muito tempo desaparecido por ter perdido a memória, enfim não tem nada a ver com a sua história a não ser a guerra e os seus males.
ResponderEliminarAbraço e saúde
Seu texto é de leitura muito agradável. O amor é foco principal, independente da guerra e de seus lamentáveis estragos. Gostei muito! Bjs.
ResponderEliminarum texto que abre margens para muitas possibilidades de sentimentos!
ResponderEliminarum beijo.
Texto que nos traz a evocação de dramas e separações, com o amor a pontuar todos os
ResponderEliminarparágrafos.
Gostei muito, Sandra.
Beijo
Olinda
Você escreve muito bem, passa muita emoção. Personagens vivos!
ResponderEliminarUm texto emocionante que gostei muito de ler.
ResponderEliminarBjs
Uma linguagem viva , com um enredo cativante , romântico; uma narrativa bem alicerçada .
ResponderEliminarUma história que convida à curiosidade
Esperemos o que nós reserva
Beijinho
Voltei o primeiro capítulo e li num fôlego só _ gostei muito muito.
ResponderEliminarTipo Cinderela tal o nome delicioso da sua página.
Em tempos tão sombrios ter uma leitura de um amor que nenhuma guerra e distancia pode apagar deixou minha manhã de sábado bem sentimental .
Obrigada pela gentileza da visita e comentário.
Bons dias .
Que história emocionante!
ResponderEliminarEstou torcendo para que possam, algum dia, se reencontrar.
Adorei ler!
Um carinhoso abraço
Verena.
Estive a ler os capitulos anteriores e tocaram-me fundo, pois sofri com essa guerra, não como tantos outros que perderam os seus filhos, mas sempre " com o coração nas mãos " por ter lá o meu único irmão e também aquele que hoje é meu marido Essa guerra não era deles e também não era daqueles pobres soldados considerados " inimigos ". Estavam ali obrigados e, forçados, tinham também de matar, acto que levou muitos a problemas psiquicos até hoje. Mas, é assim com todas as guerras; quem as ordena não vai para o " campo de batalha " e, pprtanto, nada lhes custa. Um beijinho, Amiga e espero que estejam todos bem de SAÚDE. Estamos a enfrentar uma guerra, infelizmente sem armas que consigam combatê-la.
ResponderEliminarEmilia
Um amor forte, intenso...apesar da saudade, da separação.... e duma guerra brutal...
ResponderEliminarGostei muito...
Obrigada pela visita
Beijos e abraços~
Marta
Nada separa um grande amor. Fantasticamente bela a tua história, aliás como outras que aqui tens postado.
ResponderEliminarSem querer fazer analogias, comparações e tirar conclusões, acho que tu já viveste um amor muito grande e verdadeiro.
Beijos e continua a amar!
Olá, Sandra, excelente conto como outros que li aqui. Amor, amiga, é o maior presente que podemos ter, mas temos de ter em mente que amor é também sofrer, mas sabendo, e com a esperança de que tudo passa e seguimos a vida, assim é o amor, com essa compreensão.
ResponderEliminarGrande beijo, aguardo por aqui o desenrolar.
Sem dúvida que as guerras interiores que enfrentamos, são também dolorosas... e nem sempre encontramos finalmente a paz. São guerras intermináveis, mas compete a nós essa decisão de ganhar ou perder...
ResponderEliminarEstou a gostar. Aguardo novos capítulos.
Tudo de bom.
:)
Ainda há uma esperança, que é a última que morre.
ResponderEliminarEstou a gostar.
Bom domingo!
Beijinhos.
Magnífico este texto, tanto pela narrativa, como pela emoção que nos envolve. Fico curiosa à espera da continuação.
ResponderEliminarUma boa semana com muita saúde.
Um beijo.
La guerra, saca lo pero del ser humano y sólo el fin que persigue es la destrucción.
ResponderEliminarEs dificíl tener un mundo de Paz si en el interior del corazón , no hay buena voluntad en ello.
Que tengas un bonito día, que llene tu corazón de una gran paz.
Besos
A beleza e emotividade das palavras continuam. Aguardo com expectativa o final da história. Real ou fictícia,a história consegue dr forma eficaz cativar o leitor até ao último parágrafo m. Aliás, a delicadeza e fluidez das palavras envolvem o leitor de tal forma, que o leitor encarna as personagens. Tal como diz no primeiro capítulo, por esse mundo fora haverá histórias iguais a esta. Seja qual for a guerra que separe as duas almas amantes, desejo que no fim da história essa guerra junte as duas pessoas num amor eterno nesta e noutras vidas. Mais uma vez parabéns pelas lindas palavras, e pela mestria com que escreves sobre o Amor. Aguardo o resto da história
ResponderEliminarLi os dois capítulos de seguida e gostei da história (que é impressionante) e da narrativa (magnífica).
ResponderEliminarFico à espera do próximo episódio...
Continuação de boa semana, querida amiga Sandra.
Beijo.
Adorei sua História, se for fazer um livro será um clássico, tamanha é a sua sensibilidade em narrar com tanta destreza.
ResponderEliminarParabéns amiga
Vá em em frente, pois vejo um lindo futuro para você.
Beijos no coração
Lua Singular
Fui ler o capítulo anterior, o I, que ainda não tinha lido, e estou a gostar imenso.
ResponderEliminarO tema toca-me particularmente. "Fiz" duas guerras "coloniais", por isso entendo bem os sentimentos que transparecem das suas palavras.
Continuarei a acompanhar.
Bom Fim-de-semana
Beijinhos
MARIAZITA / A CASA DA MARIQUINHAS
Maravilhosa e tocante narrativa, que muito me sensibilizou!...
ResponderEliminarEstou a adorar esta história, que já me deixou de lágrima no canto do olho!...
Já aguardando com expectativa o próximo capitulo!...
Um beijinho! Bom fim de semana, para ti e os teus!
Ana
Estou de regresso, Sandra.
ResponderEliminarBeijinhos, boa semana
Ah, querida romancista,
ResponderEliminarTu escreves muito bem!
Sandra, os teus textos têm
O talento de uma artista
Posto ao papel e a vista
Do leitor que se deleita
Com essa leitura eleita
Como peça excelente,
Visto que nossa alma sente
A beleza a ela afeita!
Parabéns! Abraço cordial! Laerte.
Adorei o blog. Já procurei a primeira parte e agora esperando o resto. bjs
ResponderEliminarOlá Sandra.
ResponderEliminarÉ tão bom voltar aqui!
Belas palavras com sempre. Adorei!
Aguardo com expetativa a continuação.
Beijo
Mundo da Fantasia
Sigue emocionante el relato y como en las buenas series de tv, esperamos con ansiedad el próximo capítulo.
ResponderEliminarBesos
Felizes festas bjs sude
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