Este blogue é um ponto de encontro com amigos desconhecidos que se reconhecem nas palavras e nos gestos, aqueles por vezes tão comuns que deixamos de reparar, até alguém nos voltar a falar deles, como se fosse a primeira vez.

Música

12 de julho de 2018

Se pudessemos, só por um dia...



Nem sempre é verdade. A verdade é que devemos olhar sempre em frente, seguir em frente, mas há coisas que ficaram para trás que decerto nos deixam saudade, coisas ou pessoas que perdemos, e que desejávamos nunca ter perdido, há coisas que gostaríamos de ter feito e não ousámos fazer e agora temos pena de não ter aproveitado a oportunidade. De uma forma a suportar a realidade, sabendo que não existe uma máquina no tempo, devemos sim, olhar em frente e aceitar o que não podemos mudar. Mas e se pudéssemos, só por um dia, voltar atrás?

Que dia escolheríamos e porquê?

É uma pergunta difícil porque, bem, há pessoas das quais gostaríamos de nos ter despedido, de ter abraçado mais, beijado mais; outras, que eram demasiado importantes para nós, mas a quem nunca fomos capazes de dizer o que sentíamos por elas e deixámos que ficasse a pairar na nossa vida aquela dúvida/esperança que nos apaga e ilumina ao mesmo tempo; outras que gostaríamos de nunca ter cruzado no caminho delas porque deixaram um pequeno rasto de destruição na nossa vida. Depois há os momentos, aqueles que adorávamos reviver, aqueles que desejávamos alterar, aqueles que gostaríamos de apagar, tantos momentos. Contudo, se pensarmos bem, a maioria desses momentos é agora insignificante comparando com o presente, e serviram apenas como pequenas pontes para atravessar os caminhos que fomos escolhendo.

Por isso, se pensar em tudo isto, o dia que eu escolheria, de todos, seria no ano de 2007, aquele dia em que o meu cão, há dez anos comigo, desde bebé, decidiu sair da beira do meu pai a correr e desapareceu por duas horas, duas horas intermináveis, como eu queria poder mudar esse dia em que o encontramos sem vida, num pinhal, coberto por ramos e folhas de árvores, com um homem ao lado a cavar um buraco... Quem me dera tê-lo fechado em casa nesse dia, protegê-lo da maldade desumana que o tirou de mim, quem me dera que aquela não tivesse sido a última vez em que peguei nele ao colo, inanimado, com sangue, em que chorei com ele nos meus braços sem vida, como se fosse uma criança, quem me dera apenas voltar a esse dia, para impedir que ele tivesse fugido, para o poder continuar a abraçar, a rir com ele, por todos os dias, por toda a sua vida...

E vocês? Qual escolheriam?

9 comentários:

  1. Há sempre algo que nos faz regressar ao passado. E, em parte, acho que isso é bom, desde que não fiquemos presos por lá.
    Se pudesse recuar, teria dificuldade em escolher um momento!

    r: E nadar faz muito bem :)

    Não conhecia "Julieta", mas já acrescentei à minha lista

    Beijinho

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    1. Eu se pudesse nadava todo o dia :D
      Esse livro é mesmo muito bom, vais ficar cheia de vontade de ir a Siena conhecer todos os pormenores que vais descobrir na história ;) E mais não digo :)
      Beijinho

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  2. Sempre que me cruzo com esta pergunta, se pudesse voltar atrás no tempo, fico sempre na dúvida e nunca sei muito bem o que responder.
    É certo que nunca apagamos o nosso passado e ainda bem, afinal sabe bem recordar as coisas boas e concluir que as más fizeram com que chegássemos aqui. Há momentos que dão vontade de repetir de tão bons que foram e há erros que gostaríamos de não ter cometido, mas acho que as coisas acontecem assim porque faz sentido ser assim. Se calhar até voltava atrás, mas não sei para onde nem para que momento, tenho sempre dúvidas :)

    E que momento triste esse, minha querida. Os nossos animais deixam sempre saudade e quando eles partem deixam-nos um vazio imenso, por isso, percebo porque dizes que voltavas para esse dia :\

    Beijinhos

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    1. Concordo contigo. Obrigada pela tua partilha Mary. Beijinho

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  3. Há uma coincidência enorme no acontecimento que guardamos e que gostaríamos de não ter vivido; no meu caso recordo o dia 11 de Agosto de 2013 em que o meu querido animal de estimação, o Cascais, assim chamado por ter sido encontrado na vila com o mesmo nome, partiu já muito velhinho com 14 anos e nesse dia ao vê-lo tão debilitado saí por instantes para chamar o meu filho e no regresso ele tinha mudado do lugar onde o deixei, arrastou-se, tenho a certeza para junto de uma cadeira onde costumava sentar-me. Esse peso e essa mágoa ainda não me deixaram e já lá vão 6 anos. Ele quis despedir-se de mim e eu não estava lá. Não disse adeus ao meu querido cão que foi o amigo mais verdadeiro e desinteressado da minha vida.

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    1. Como a compreendo... Acho que essas mágoas nunca nos deixam, conseguimos perdoar quase toda a gente mas a nós próprios quase nunca... Mas tem que se perdoar, não tinha como saber que iria acontecer naquele momento e o Cascais sabe o quanto o adorava. Força. Um grande beijinho

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  4. Realmente se o tempo pudesse parar, e se fosse posssível voltar atrás a um ano ou a um dia específico, seria sinal de alguma eternidade. Se pudesse voltar atras no tempo, e pudesse escolher alguns momentos na vida, escolhia viver momentos na adolescência, que só a idade adulta me deu oportunidade de os viver.

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    1. Compreendo perfeitamente :) Obrigada pela partilha. Beijinho

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