Vi-te ao longe, olhavas e sorrias para mim, o mesmo brilho nos olhos, o mesmo sorriso honesto de há vinte e um anos atrás.
Fui ao teu encontro a correr, no anseio de mais um abraço, na esperança que não te fosses mais… Agarrei-te com toda a minha força, sabia que assim não poderias partir, apertaste-me com força e carinho, o teu queixo na minha cabeça, senti-me protegida, senti tanta paz… Que saudades que eu tinha do teu cheiro, não queria mais sair de dentro do teu abraço, não podia mais largar-te…
Fizeste-me tanta falta, fiz tantos trilhos de vida sem ti, virei tantas páginas, nunca encontrei ninguém como tu. Fazias-me sorrir quando o meu mundo desabava, fazias-me sorrir todos os dias, defendias-me, protegias-me, alumiavas o meu caminho…
Nunca mais voltei a ver um jogo de hóquei sem ti, a última vez que nos sentamos juntos nas bancadas, escreveste no meu caderno: “Gosto de ti x 10000000000000000000000000”… O peluche que me deste com a mensagem “Não mudes nunca” ainda está comigo, velho, descolorido mas intacto como os meus sentimentos… Gostavas de mim na minha perfeição e imperfeição...
Todos te seguiam, movias o Mundo, agarrei-te ainda com mais força não te podia deixar partir de novo, tanta coisa para te contar, para te mostrar, para te partilhar, tanta gratidão e tanto amor guardado para te dar.
Era tão bom estar assim, outra vez no teu abraço… Apertavas-me com força, sentia-me de novo protegida, feliz. Olhei-te nos olhos novamente, o brilho deles enchia-me o coração de calor, mais do que qualquer sol quente de verão. Éramos tão novos quando partiste, tão inocentes, a tua inocência mantinha-se inteira, a minha, a vida tinha-a partida aos pedaços e maior parte deles perderam-se entre as dores e as pedras do caminho… Quando partiste éramos já crescidos, mas só em altura, por dentro éramos crianças, e, para mim, eras o Mundo inteiro…
Fechei os olhos, abracei-te com toda a minha força, para não poderes partir, não queria voltar a perder-te, não queria sentir mais aquele choque repentino no peito quando acordava de manhã ansiosa por te ver e, de repente, recordava a áspera verdade, que já não estavas cá, que te tinha perdido para sempre, mas o destino é a única coisa que ninguém nos tira, e quando abri os olhos, eu estava sozinha outra vez.
Nos meus braços estava o vazio que deixavas, e, foi nesse instante, que acordei e percebi que era um sonho, ou talvez não fosse um sonho, talvez me tenhas vindo ver mais uma vez, tudo o que sei é que te foste, se estás no céu, será um céu especial, onde estão os puros e os animais que tanto adoramos, e isso conforta-me um pouco.
Mas as saudades vivem e viverão em mim, para sempre. Eras o meu melhor amigo, como um irmão verdadeiro. Jamais te esquecerei, jamais poderia esquecer-te. Tu mudaste a minha vida, imprimiste em mim o teu coração, a tua sensibilidade e empatia, fizeste-me amar ainda mais todos os seres vivos, fizeste-me ter forças para lutar, fizeste-me acreditar que há mais do que aquilo que podemos ver ou alcançar, há mais para além de tudo aquilo em que acreditamos, há sempre mais, quando a estrada parece que acabou devemos continuar o caminho porque haverá mais para descobrir e aprender, mais para viver, mais para sonhar e lutar, mais para sorrir.
Trouxeste contigo a coragem, no teu sorriso, no brilho dos teus olhos, trouxeste-me a esperança em cada abraço que me vieste dar depois de teres partido para sempre…
S.R.
Para o meu melhor amigo:
Nuno Filipe Miranda dos Santos
(15.12.1975 - 20.01.1997)