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A minha Avó - 1920 |
"Sentir tudo de todas as maneiras,
Viver tudo de todos os lados,
Ser a mesma coisa de todos os modos possíveis ao mesmo tempo,
Realizar em si toda a humanidade de todos os momentos
Num só momento difuso, profuso, completo e longínquo (...)"
Álvaro de Campos
(Heterónimo de Fernando Pessoa)
Há um momento na vida, talvez até
mais que um, em que sentimos que precisamos de descobrir mais sobre nós, em que
precisamos de respostas, em que nos procuramos e sentimos que há respostas
algures sobre nós nesse passado longínquo.
Queremos analisar cada sorriso, cada olhar, para ver
qual é o mais parecido com o nosso, para perceber de onde veio cada um dos pequenos
pormenores que nos completam como pessoa.
De um dia para o outro procuramos peças de um
puzzle, a nossa identidade, queremos conhecer as nossas raízes e as raízes
das nossas raízes. Tudo o que sabíamos até então já não chega, precisamos de mais sobre nós.
Como se procurássemos um caminho
de volta. Mas para onde? Que procuramos nós realmente?
Há momentos na vida em que nos sentimos perdidos, desorientados, como se nos faltassem pedaços, pequenos grãos nossos que ficaram espalhados pelo caminho da vida. Caminho que começou muito antes de nascermos, um caminho que continua, mas para trás no tempo. Conhecer quem nunca conhecemos, ouvir quem nunca ouvimos, ver quem nunca vimos, perceber o que nunca percebemos, saber coisas que nunca soubemos... Porque fazem parte de nós.
E nos dias em que não vemos para além no futuro, esperamos que haja uma resposta para nós no passado, por mais longe que esteja... Aquilo que procuramos pode estar em qualquer lugar, em qualquer tempo, em qualquer pessoa, em qualquer objecto, em qualquer pedaço de vento, de terra ou de pó...
O que procuramos nesses dias em que precisamos reencontrar-nos, saber tudo, sentir tudo de todas as maneiras, o que procuramos que é tão importante quanto a vida, é a Esperança.
Sem ela o sangue correria nas veias mas estaríamos mortos, sem ela não viveríamos. E nesses dias em que nos sentimos perdidos, em que não vemos além no futuro, em que precisamos tanto dela, voltamos atrás para a encontrar, no passado, porque ela existia dentro de nós, só precisamos descobrir como a reacender através do mais pequeno grão de pó que nos pertence, que é nosso, que somos nós, desde muito antes de existirmos.