Tirei esta foto da minha varanda no Porto no domingo, ainda sem saber o que estava para vir, tinha estado uma manhã radiosa e ao fim da tarde o céu tinha tons amarelos e cinza, eu pensei que era uma mistura de começos de Outono com chuva a aproximar-se, ainda não tinha ligado a televisão, nem o computador e as crianças olhavam da janela e diziam-me "Que luz estranha está tudo amarelo lá fora" e mal sabia eu que não eram nuvens de chuva mas de fumo, que mesmo de longe, chegavam ao Porto...
É sempre difícil falar do que nos magoa profundamente. Embora não tenha sido afectada directamente pelos incêndios aqui no Porto, sinto que me espetaram pequenos estilhaços no coração. Não é justa a vida, é verdade, mas ver pessoas a perderem tudo, tudo o que construíram uma vida inteira, só porque alguém gosta de atear fogo, ou por guerras comerciais, interesses económicos, destruição política... As guerras são deles, não do povo. Morreram pessoas sufocadas, carbonizadas, não é maneira de morrer, assim se morria na idade média, não agora. As que sobreviveram sofreram e sofrem, perderam tudo o que construíram, perderam família, perderam mais um pouco de fé na humanidade. Morreram milhares de animais de forma tão cruel... Associações e humanos que arriscaram as vidas para salvar os animais, outros que os tiveram que libertar ao seu destino para terem pelo menos a oportunidade de talvez sobreviverem. Há um rasto de vidas carbonizadas em Portugal, e quando falo de vidas refiro-me a todas, sejam humanas ou não humanas. Em minha casa, desde pequena, os animais são família, não precisamos esperar pela da nova lei para os amar, entender e saber que eles sofrem, choram, angustiam, entram em depressão, como nós humanos.
Estes dias nem consegui falar, mediante tanta destruição no nosso País, não existem palavras que cheguem, nem lágrimas que limpem os corações de quem sentiu e ainda sente esta devastação. Uma cadela que carregava na boca uma cria bebé carbonizada. Não é preciso mais palavras que isto. Há animais mais humanos que os homens. Esta cadela carregou a cria morta e queimada, não a abandonou e, apesar da aflição, houveram demasiados humanos que deixaram cães acorrentados, enjaulados e animais fechados em celeiros perante a aproximação das chamas. Acredito que alguns podem não ter conseguido mas também sei que muitos nem tentaram... Isso deixa-me o coração cheio de tristeza, uma tristeza maior que qualquer revolta, uma tristeza que tão cedo não conseguirei esquecer nem perdoar...
Não perdi a fé nem a esperança na humanidade, apenas em muitos humanos que não o são verdadeiramente. Como puderam fazer isto ao nosso Portugal? Tínhamos um País tão lindo, tão sereno... Aldeias históricas... É impossível não chorar ao ver as imagens da vida a arder, os nossos pinhais, o verde do nosso País, a Natureza, também fazemos parte do Planeta... Acho que muitos de nós estão num luto interior silencioso, porque ainda parece tão difícil de acreditar, acreditar que pessoas, como nós, possam ter-se divertido a fazer isto ou possam ter feito isto com intuitos lucrativos sem se importarem com ninguém Considero estes incêndios e os anteriores um atentado contra o nosso Portugal, contra o nosso Planeta e todas as formas de vida nele e espero que seja feita justiça, uma justiça a sério, sem pulseiras, sem imunidades...
Trago Portugal em cinzas no meu coração, mas sei que, embora devagar, vai recuperar, porque nós portugueses somos fortes, aguentamos tudo mesmo quando acreditamos que não poderíamos aguentar mais. E não tarda, um dia o Sol volta a brilhar dentro de cada um de nós, e nesse dia voltaremos todos a estar de pé e a esperança será renovada.
Sandra Reis
Trago Portugal em cinzas no meu coração, mas sei que, embora devagar, vai recuperar, porque nós portugueses somos fortes, aguentamos tudo mesmo quando acreditamos que não poderíamos aguentar mais. E não tarda, um dia o Sol volta a brilhar dentro de cada um de nós, e nesse dia voltaremos todos a estar de pé e a esperança será renovada.
Plantemos todos uma árvore,
purifiquemos o pulmão do nosso País,
por todos, por Portugal, por D.Dinis!
Sandra Reis