Este blogue é um ponto de encontro com amigos desconhecidos que se reconhecem nas palavras e nos gestos, aqueles por vezes tão comuns que deixamos de reparar, até alguém nos voltar a falar deles, como se fosse a primeira vez.

Música

24 de maio de 2021

O tempo

 

O tempo nem sempre é uma linha, nem sempre é um círculo, apesar daquilo em que acreditamos e do que nos ensinam a acreditar.
O tempo não volta atrás, e, às vezes, o tempo também não segue em frente. Por vezes, o tempo, simplesmente, pára.
Pára, dentro de nós, e nesse momento podemos sentir que há um vazio, uma dor, um buraco, sofrer é normal, chorar é normal, sentir tristeza é normal.
Podemos ficar sentados algum tempo a ver o mesmo comboio a passar apaticamente, sem o querermos apanhar, porque não estamos prontos para seguir, porque temos medo, porque estamos cansados, porque não queremos tentar.
Mas é nesse momento que temos que procurar dentro de nós a chave-mestra do nosso coração, a força, a coragem, que dão corda e fazem mexer os ponteiros do nosso interior, mesmo que ainda não o quiséssemos fazer.
Porque além de matéria nós também somos espaço e tempo, e não podemos desperdiçar-nos, nós precisamos do tic-tac, precisamos de objectivos, precisamos de acreditar.
E, nesse momento, brota uma força interior, porque nós quisemos e permitimos, e, desta vez, quando o comboio volta a passar, ele pára, mesmo diante de nós, e, entramos.
Aos poucos o som ritmado do comboio, relembra-nos o tic-tac, o tempo, a vida. Quando menos esperamos, o tic-tac transforma-se no pulsar do coração, e, conseguimos sorrir, um pouco.
Seguimos ao ritmo de cada pulsação, destemidos, para onde há sol, para onde há esperança, para onde se criem novas histórias, para além de onde a vontade nos queira levar.
 
S.R.