"O amor é a força mais subtil do mundo."
Mahatma Gandhi
Sakura, a Lenda do Amor Verdadeiro
A lenda de Sakura nasceu há centenas de anos atrás no Japão. Naquele tempo, eram travadas terríveis batalhas por senhores feudais, onde morriam muitos combatentes humildes, deixando o país coberto de tristeza e devastação. Eram raros os momentos de paz, mal terminava uma guerra, começava outra. Apesar de tudo, ali perto, uma linda floresta mantinha-se intocável pela guerra. Repleta de árvores frondosas, que exalavam delicados perfumes e reconfortavam os atormentados habitantes, nenhum dos exércitos se atrevia a destruir semelhante maravilha da natureza.
No entanto, naquela linda floresta, havia uma árvore que nunca florescia, mesmo cheia de vida nunca nasciam flores nos seus ramos, fazendo-a parecer esguia e seca, como se estivesse morta. Por alguma razão, estava condenada a não desfrutar da cor e do aroma das flores. A árvore permanecia solitária, nem os animais se aproximavam dela com medo de serem contagiados, nem a erva crescia à volta. A solidão era a única companhia que tinha.
Até que um dia, uma fada da floresta ficou comovida ao ver a árvore tão jovem, a parecer tão velha. Então, numa noite, a fada apareceu junto à árvore e, com nobres palavras, disse-lhe que gostaria de a ver bonita e radiante, e que estava disposta a ajudá-la para que isso acontecesse. E, assim, a fada fez-lhe uma proposta. Lançar-lhe um feitiço que duraria 20 anos e, durante esse tempo, a árvore conseguiria sentir o que o coração humano sente. Talvez assim, ela conseguisse emocionar-se e, quem sabe, florescer. A fada acrescentou ainda que a árvore poderia transformar-se, tanto em planta, como em ser humano, indistintamente, quando desejasse. No entanto, se no fim dos 20 anos ela não tivesse conseguido recuperar a vitalidade e o brilho, morreria.
Assim, como a fada disse, a árvore sabendo que se podia transformar em ser humano e voltar a ser árvore quando quisesse, tentou ficar por um grande espaço de tempo como homem, para ver se as emoções humanas a ajudavam a florescer. No entanto, o início foi uma desilusão. Por mais que procurasse, só via ódio e guerra à sua volta. Decidiu então transformar-se em árvore por um tempo. Os meses foram passando, os foram passando... A árvore continuava como sempre e não encontrava nos humanos nada que a livrasse daquele vazio.
No entanto, numa tarde, a árvore decidiu transformar-se em humano, caminhou até à beira dum riacho cristalino e, ali, viu uma linda jovem, Sakura. Impressionado com beleza da rapariga, a árvore transformada em rapaz aproximou-se dela. Sakura foi muito amável com ele. Para corresponder à enorme bondade, ele ajudou-a a carregar a água até à casa dela, que ficava perto dali. Pelo caminho conversaram muito sobre a tristeza da guerra, na qual o Japão se encontrava, e, dos sonhos que ambos tinham.
Quando a rapariga lhe perguntou o nome, ele respondeu “Yohiro”, que significava esperança. Eles acabaram por se tornar muito amigos e encontravam-se todos os dias para conversar, cantar, ler poemas e livros de histórias fantásticas. Quanto mais ele a conhecia, mais vontade sentia de estar ao lado dela e, contava cada minuto para ir ao encontro de Sakura.
Um dia Yohiro não aguentou e confessou o seu amor a Sakura, confessando-lhe também quem ele era na verdade: uma árvore atormentada, que em breve iria morrer porque não tinha conseguido florescer. Sakura ficou muito impressionada e manteve-se em silêncio.
O tempo passou e o tempo do feitiço estava quase a terminar. Yohiro, sentia-se cada vez mais triste sem ela e decidiu voltar à forma de árvore. Numa tarde, quando menos esperava, Sakura apareceu e aproximou-se dele. Abraçou-o e disse-lhe que também o amava. Não queria que ele morresse, nem que nada de mal lhe acontecesse.
Então, a fada apareceu novamente e perguntou a Sakura se queria continuar humana ou se gostaria de se fundir com Yohiro em forma de árvore. Ela olhou à volta, recordando os tristes campos de guerra, escolheu unir-se para sempre com Yohiro. E o milagre aconteceu. Os dois tornaram-se num só. E, a árvore, finalmente, floresceu.
Sakura significava flor de cerejeira, mas Yohiro não sabia disso. Desde aquele dia, há centenas de anos atrás, que o amor de Yohiro e Sakura, perfuma os campos do Japão.
“Tudo que sabemos sobre o amor é que o amor é tudo que existe”.
Emily Dickinson
Estamos a meio deste acontecimento no Japão e não podia deixar de falar nele. Todos os anos entre Janeiro e Abril, florescem as cerejeiras no Japão. Para o povo nipónico a floração é duma magia e beleza impossível de descrever fielmente. É a despedida do inverno frio e pálido e o início da primavera onde todos se reunem para celebrar a amizade e o amor. A floração começa no sul do Japão, em Okinawa, em direção ao norte até Hokkaido. Dura dois meses e “move-se” como uma onda, sendo apelidado de Sakura Zansen, proporciona um dos maiores espetáculos da natureza no arquipélago.
Antigamente, a sakura era considerada símbolo do amor. Quando as mulheres enfeitavam os cabelos com um galho de sakura ou decoravam o quintal com as flores, mostravam que estavam à procura do amor.
Há uma Lenda que conta que uma princesa desceu dos céus e aterrou numa cerejeira, fazendo acreditar que o nome sakura, na verdade, é derivado do nome da princesa Konohana Sakuya Hime, que significa “a princesa das árvores das flores abertas”.
É uma árvore muito apreciada no Japão, em particular, pelos samurais, devido à sua efemeridade. Na Idade Média, período de guerras, a curta duração das flores nos galhos das árvores impressionou os japoneses e fê-los questionar a delicadeza da vida. A sakura acabou por ser associada aos Samurais, guerreiros japoneses, dispostos a dar a vida sempre que necessário, e cuja existência, muitas vezes, era tão breve quanto a flor da cerejeira. Acredita-se que a sakura é a ligação entre o mundo dos vivos e dos mortos; e que a alma dos mortos é absorvida pelas árvores das cerejeiras.
Deixo-vos mais uma Lenda:
A Lenda da Cerejeira
Segundo esta lenda, há muitos anos atrás, vivia em Iyo um samurai muito velho; tão velho que já nem família, nem amigos vivos tinha. O único ser ao qual podia ainda dedicar o seu amor, era uma velha cerejeira que os seus antepassados tinham plantado e à sombra da qual o velho samurai tinha brincado quando era criança. A mesma árvore, onde cujos ramos, serviram para pendurar pequenos pedaços de papel, onde, durante gerações, os membros da sua família escreveram belos poemas de louvor à velha árvore.
Mas um dia, para enorme tristeza, a velha cerejeira começou a definhar e morreu. Os vizinhos do samurai vieram plantar uma nova cerejeira, mas para o velho samurai a morte da árvore era um sinal de que a sua vida também estava a chegar ao fim.
Dirigiu-se então, à antiga cerejeira, cujo tronco ainda se erguia altaneiro no meio do jardim e pediu um último desejo: a cerejeira devia florir uma última vez. Se o seu desejo se realizasse, o velho samurai prometia que, esse seria o momento para ele próprio morrer também.
A velha cerejeira voltou a dar flor, embora fosse Inverno, e ali mesmo sob os seus ramos o velho samurai cometeu harakiri. O sangue cobriu o chão e chegou às raízes da velha cerejeira, e, desde esse dia a velha cerejeira, que havia morrido, continua a dar flor todos os anos pelo aniversário da morte do samurai. No sexto dia do primeiro mês do ano, mesmo no coração do Inverno.